21.5.08

Sobre Café e Cigarros


Há algumas horas atrás eu terminei de ler um livro. Este livro está em meu poder e agora, enquanto escrevo, está depositado em cima da minha estante, perto do computador, com a lombada do título voltada para mim. O livro se chama Café-da-Manhã dos Campeões e me foi emprestado pelo meu amigo Davi. O livro foi escrito na década de 1970 por um norte-americano chamado Kurt Vonnegut. Ele está morto agora.

Quando vivo, o Sr. Vonnegut era um homem inconformado e um tanto amargo, ainda que escrevesse muitas coisas engraçadas. Por causa destas coisas engraçadas que ele costumava escrever muita gente pensa nele como uma espécie de comediante literário. Se eu pudesse falar com estas pessoas diria a elas da melhor maneira que eu encontrasse que elas provavelmente não leram com atenção os livros do Sr. Vonnegut ou, em hipótese mais extrema, não leram absolutamente nada do que ele escreveu. Eu estaria sendo acusatório e arbitrário se dissesse algo assim, mas isso é normal da minha personalidade.

Se estas pessoas quisessem continuar com esse tipo de pensamento desmiolado eu lhes diria para ler com mais atenção o livro que já citei e que me foi emprestado pelo meu amigo Davi, Café-da-Manhã dos Campeões.

Eis do que trata o livro:

Kilgore Trout é um desconhecido escritor de ficção científica que teve boa parte de seus trabalhos publicados em revistas pornográficas de baixa qualidade. Dwayne Hoover é um vendedor de carros bem sucedido e tido como modelo de honestidade em sua pequena cidade. Por algum motivo, Hoover começa a ter episódios ruins e vai progressivamente perdendo o controle de suas faculdades mentais. Kilgore Trout, alheio a tudo isso, começa uma viagem rumo a um festival de artes na cidade de Midland, para o qual ele não sabe bem como ou por que foi convidado. Midland é por acaso a cidade onde mora Dwayne. Trout espera que sua aparição no festival, como exemplo perfeito de um escritor fracassado, possa restituir seu precioso anonimato quebrado por esse estranho convite. O encontro entre esses dois personagens provocará uma grande mudança na vida de Dwayne Hoover e na da cidade de Midland. Para Trout, será apenas mais um fracasso habitual.

Isso é o que o livro conta. Eis o que eu entendi dele e o que eu diria às pessoas que também o leram e não entenderam ou que ainda não leram o livro, mas pretendem fazê-lo em breve:

Café-da-Manhã dos Campeões é um livro sério, embora tenha muitas coisas – e desenhos – engraçados escritos nele. Durante a leitura deste livro é normal que você dê um sorriso de canto de boca. Um sorriso melancólico, quero dizer, e nada além disso. Uma gargalhada, no entanto, indicará que você tem um senso de humor perigoso demais. O que o Sr. Vonnegut faz por meio do humor e de observações divertidas é apontar por meio do deboche acusatório a hipocrisia e o ridículo da sociedade norte-americana, que se movimenta incólume pelas ruas da pequena Midland e através do país.

Os personagens e suas motivações muitas vezes esdrúxulas, as convenções habituais do romance ocidental, racismo, sexo, ele próprio – nada escapa do ranço cínico e, por vezes, pessimista do Sr. Vonnegut. O desfecho do livro, com um dos protagonistas irremediavelmente arruinado e o outro reduzido à súplica inútil o transformam numa das mais amargas peças de literatura já escritas no século XX. Se realmente fosse uma refeição, Café-da-Manhã dos Campeões seria uma xícara de café preto com um maço de Pall Malls – os cigarros favoritos do Sr. Vonnegut, que Deus o tenha.

E isso é tudo o que tenho a dizer sobre esse livro. Existem muito mais coisas, claro, do que a minha opinião simplista e preguiçosa. Caso pareça insuficiente o que eu escrevi, você sempre pode ler o livro ao invés de perder tempo lendo o que outras pessoas escrevem a respeito.

E assim por diante.

Se alguém mais estiver realmente pensando em ler este livro, sinto-me no dever de avisar que uma editora muito conhecida por seus preços baratos no Brasil lançou esse e outro livro do Sr. Vonnegut a preços bastante acessíveis. Outra solução seria pedi-lho emprestado ao meu amigo Davi, mas não é muito fácil encontrá-lo. Ele tem um emprego que o está matando aos poucos e isso ocupa boa parte de seu tempo.


*Escrito em fins de 2007 e jogado em uma gaveta insondável de uma repartição pública. Recuperado dessa gaveta por Tiago Lopes por volta de março de 2008. Publicado pela primeira vez na Revista Wave no início de maio do mesmo ano.

Um comentário:

Hugo Morais disse...

O cidadão deve estar com crise de abstinência do café e do cigarro. Olha a cara do homem!!!