30.12.08

Pra fechar a tampa e passar a régua

No último post do ano, uma notícia que talvez faça de 2009 um ano melhor. Quem sabe nos livramos dessa fria.


[[Fox diz que vai tentar barrar lançamento de "Watchmen"]]

Advogado afirmou que pretende continuar briga com a Warner. Adaptação de HQ de Alan Moore deveria estrear em 6 de março.

Fonte: G1

Um advogado do 20th Century Fox afirmou que o estúdio irá continuar buscando uma ordem para atrasar o lançamento do filme "Watchmen", adaptação da HQ de Alan Moore que é uma das mais esperadas para 2009.

Na semana passada, o juiz Gary Feess concordou com a Fox que a Warner Bros. havia infringido seus direitos ao desenvolver e filmar o longa de super-heróis, programado para estrear em 6 de março.

Feess disse que planeja realizar um julgamento no dia 20 de janeiro para decidir as questões pendentes.

A Fox alega que nunca abriu mão completamente dos direitos sobre a história que conquistou em um acordo no final dos anos 80, por isso resolveu processar a Warner. Em fevereiro, a Warner defendeu que a Fox não teria direito a distribuir o filme.

Na última segunda, o advogado da Warner informou que não sabia se o estúdio apelaria da decisão. Segundo ele, um julgamento é necessário, mas um acordo seria improvável.

Tô fora.

21.12.08

A felicidade é uma arma quente

Lembra? –

Por volta das 7 da manhã. Segunda feira de sol morno, vento agradável correndo asfalto, nuvens simpáticas e corriqueiras. Banquinho daqueles de praça, pintado de branco descascado, numa quina mais tranqüila do pátio do colégio, eu sozinho sentado nele. É meu primeiro dia nesse lugar. Já não sou mais uma criançinha de jardim, é verdade, mas nada impede que eu me sinta desconfortável. Espero a campainha tocar. Não estou usando meias e sinto uma vontade tremenda de ir ao banheiro. Ah, sim... disso eu lembro muito bem...

Não só a música, mas toda arte de uma maneira geral tende a refletir o estado de espírito do artista. Músicos famosos por sua melancolia como Nick Drake, Jeff Buckley ou Eliott Smith (se ainda estivessem vivos) não surpreenderiam se em novos trabalhos apresentassem a habitual tristeza de um garoto solitário e sua guitarra. O mesmo pode ser dito de bandas como Television, Cowboy Junkies, Galaxie 500, Mogwai, Joy Division, Travis, Radiohead e boa parte da atual cena musical inglesa. O que surpreende mesmo é quando um nome do naipe do Supergrass diminui o volume das guitarras, põe as palminhas do refrão no bolso e entrega um disco tristonho e com a velocidade reduzida.

No ano em que mudei de colégio pela terceira e última vez, aconteceu de eu por as patas no primeiro disco do Supergrass, I Should Coco. Disco rápido, barulhento, feliz. A injeção de ânimo que eu precisava para suportar os primeiros meses num lugar novo com gente nova e desconhecida vinha principalmente dos acordes rápidos e sujos de “Caught By The Fuzz” e da alegria “somos jovens, tudo bem” do hit Alright”. Sobrevivi, e o Supergrass seguiu como uma das minhas bandas favoritas.

Naquele mesmo ano, a banda lançou Life On Other Planets, outra ode à felicidade e ao lado bom da vida, ao lado dos amigos camaradas, das noites em claro e do rock’n roll. Dessa vez era “Rush Hour Soul”, “Za”, “Grace”, “Never Done Nothing Like That Before”, “Seen The Light”… felicidade plugada em pedais fuzz e piano acelerado, correndo atrás de um vocal debochado, em volta de uma sala cheia de cinzeiros e latinhas de cerveja, espalhadas entre os cabos do equipamento. “I’m a rock’n roll singer in a rock’n roll band, thank you very much”, agradecia o vocalista e guitarrista Gaz Coombes, ao fim de uma das canções.

Road to Rouen, disco mais recente da banda frustra toda e qualquer expectativa de quem espera ir à mais uma festa hoje a noite. O clima agora é de ressaca, de dia seguinte que se estenderá por muitos outros dias ainda. “Hello my honey/ my beautiful friend/ It’s hard to imagine/ It’s come to an end...”, canta o mesmo Gaz Coombes na primeira estrofe de “Roxy”. Há quem diga que seja estafa criativa, há quem diga que seja maturidade. Se tratando do Supergrass, acredito que sejam as duas coisas. É, em parte, o cansaço de se chegar aos trinta anos compondo canções com três acordes e recheadas de “lalalás”. E desse cansaço é que vem a maturidade. E da maturidade um disco do quilate de Road to Rouen, um dos melhores do ano passado. Ainda estão lá alguns pontos altos de felicidade, como a faixa-título e a divertida “Coffee In A Pot”. Mas o tom aqui é realmente a chegada inevitável da vida adulta, as contas a pagar, a namorada que se transformou em esposa de uma hora para outra, os amigos ausentes e o nosso senso de humor, cada vez mais amargo. “We were younger/ Oh the way you turned my head...”, diz a letra de “Low C”.

Um disco que se distancia do passado, mas não o renega. Um dia precisaremos acordar, e aí, faremos discos como esse. A felicidade, já dizia o velho beatle, é uma arma quente... - lembra?

* Texto escrito e publicado nos idos de 2006. Direto do baú.

16.12.08

Chocolate Jesus

Don't go to church on Sunday
Don't get on my knees to pray
Don't memorize the books of the Bible
I got my own special way
But I know Jesus loves me
Maybe just a little bit more

I fall on my knees every Sunday
At Zerelda Lee's candy store

Well it's got to be a chocolate Jesus
Make me feel good inside
Got to be a chocolate Jesus
Keep me satisfied

Well I don't want no Anna Zabba
Don't want no Almond Joy
There ain't nothing better
Suitable for this boy
Well it's the only thing
That can pick me up
Better than a cup of gold
See only a chocolate Jesus
Can satisfy my soul

When the weather gets rough
And it's whiskey in the shade
It's best to wrap your savior
Up in cellophane
He flows like the big muddy
But that's ok
Pour him over ice cream
For a nice parfait

Well it's got to be a chocolate Jesus
Good enough for me
Got to be a chocolate Jesus
Good enough for me

Well its got to be a chocolate Jesus
Make me feel good inside
Got to be a chocolate Jesus
Keep me satisfied



(Tom Waits, in Mule Variatons, 1999, ANTI-)

Na sequência, vídeo de uma perfomance sui generis de "Chocolate Jesus", no programa de David Letterman, seguido por uma entrevista.



14.12.08

Alegrias de verão

O canal oficial do selo Rought Trade já soltou os primeiros vídeos oficialis do Little Joy, a banda de Rodrigo Amarante (ex-Los Hermanos), Fabrizio Moretti (Strokes) e Binki Shapiro, (ex-anônima) que vai mudar o seu verão. E pra melhor, que fique bem claro.

Eis abaixo o filmete de "No One's Better Sake", com a assustadora participação do maldito hippie sujo Devendra Banhart. Na sequência, um vídeo, também produzido pela gravadora, de uma sessão de sofá com "Next Time Around", dirigido por um certo Thunderbird. Seria o ex-VJ da MTV e melhor amigo de Júpiter Maçã? Só o tempo dirá. Enquanto isso, continuamos na torcida para a confirmação das datas dos shows da banda em Recife.

[[Little Joy - "No One's Better Sake"]]



[[Little Joy - "Next Time Around"]]

8.12.08

Happiness in magazines

Em plena segunda-feira, adentrei em um daqueles sebos da Ulisses Caldas e me pus a fuçar uma pilha de revistas velhas. Fuçar qualquer coisa em sebos é, na sincera minha opinião, um hábito tão necessário ao desenvolvimento humano quanto comer feijão no almoço. O problema é que a prática repetida desse ato tão simples pode acabar se revertendo em sérios prejuízos ao seu bolso (falo por experiência própria).

Dessa vez não foi o caso. Na pilha jogada num canto de parede do sebo, entre revistas de surf e fascículos de cursos práticos de inglês, encontrei quatro exemplares da finada, saudosa e, ao menos pra mim, fundamental revista Bizz. Para os incautos que não admitem qualquer justificativa para uma frase tão cafona quanto a anterior, eis uma informação confidencial que eu reservava para um futuro volume de memórias: meu presente de aniversário de 11 anos foi uma assinatura da Bizz. O primeiro número que recebi, lembro até hoje, tinha na capa meio esverdeada os irmãos Gallagher, então na moda mas já entrando no pós-hype do Oasis. Daí pra frente, a revista passou a ser a minha principal fonte de informação musical, e influência decisiva na minha maneira de encarar e escrever sobre música alguns anos mais pra frente.

Acompanhei a revista de 1997 até a primeira morte, em 2001, passando por mudanças de nome (de Bizz pra Showbizz e depois, pra Bizz outra vez) e formatos. Quando ressuscitaram a coitada, em 2005, segui em coleção conjunta com o também órfão Tiago Lopes, até a segunda e, ao que parece, definitiva morte no início de 2007.

Os exemplares adquiridos pela soma total de 4 pilas ainda que de capas não tão convidativas (Bruce Dickinson, Dexter Holland, do Offspring, Dinho Ouro Preto e, fechando o quarteto, Roger do Ultraje a Rigor nu em pêlo e recém-saído da capa da G Magazine), escondiam um conteúdo da porra. Textos que, na medida em que fui folheando as páginas, já sentado dentro do ônibus, fui reconhecendo dos tempos em que era leitor assíduo da revista.

Foi como um daqueles filmes B em que um sujeito viaja no tempo e, ao dar de cara com um de seus antepassados, percebe no coroa as características seminais que o definem no presente. Nas páginas das revistas saídas do sebo estão lá todas as figuras que hoje habitam de forma quase obsessiva a minha estante de discos e o meu aparelho de som. Pavement, Yo La Tengo, Neil Young, Stooges, Nação Zumbi, Mogwai, Mutantes,Violent Femmes. Todos assinaram a lista de presença.

Ao invés de aparecerem em notinhas sociais disfarçadas de matérias, os senhores do parágrafo acima eram personagens de textos escritos por quem entendia de música e escrevia com a preocupação de despertar alguma opinião no leitor. E com grandes piadas no meio, claro.

Vejamos: alguém pode botar preço num texto em que Luis Antônio Giron elogia Paulo Miklos chamando o titã de “bulbassauro do rock”? E uma cobertura do Abril pro Rock de 99, em que tocaram Nação Zumbi, Mestre Ambrósio e nomes esquecidos ou obliterados como Via Sat e Sheik Tosado? Ou numa entrevista de duas páginas, mais uma discografia comentada de Frank Black? Ou que tal uma matéria com clima de teoria da conspiração, que define o então pouco conhecido Belle & Sebastian como “uma misteriosa banda escocesa cujos integrantes se recusam a tirar fotografias ou dar entrevistas”? Chamem o Mastercard, porque essa porra simplesmente não tem preço.

Dos quatro exemplares adquiridos, aquele que mais me empolgou foi o número 188, de março de 2001, estampado com o abominável frontman do Capital Inicial. Apesar de representar a fase terminal que levou ao primeiro cancelamento da Bizz, é a minha encarnação favorita da revista. Na época, a linha editorial assumiu um ar mais “alternativo” que, aliado ao Lado B da MTV e a um troço chamado Napster contribuíram para que eu tivesse pouco assunto com os colegas da escola, ainda que as seqüelas no meu gosto musical tenham sido perenes.

Porra, onde vou encontrar por aqui uma revista que se dê ao luxo de estampar na quarta capa um anúncio de página inteira sobre o disco solo de Stephen Malkmus com os dizeres “Em frente, estrada sem asfalto”? Não vou, simplesmente. Os tempos são outros.

De toda forma, batidas em sebos me parecem mais saudáveis do que gastar dinheiro em revistas de fofoca camufladas. Aos sebos e avante.

7.12.08

Bufallo Bill está morto...

...E quem ainda não viu o fantasma, vê aqui no clipe novo d' Os Bonnies pra uma das melhores faixas do disco novo dos caras.

4.12.08

Jesus Cristo Superstar



"[...] a Igreja junto com a imagem de Cristo e dos cultos são um tanto engraçados se você pensar um pouco sobre eles, já que na missa o padre bebe o sangue de Cristo, com a hóstia divide o corpo de Cristo e no final todo mundo adora um cara que ressuscitou. Quer dizer, são linguagens figuradas que eu posso interpretar como vampirismo, canibalismo. E adoramos um morto vivo, um zumbi. [...]"

De Vlad, vocalista do Sick Sick Sinners, explicando de onde vem a inspiração para as letras da banda, em entrevista ao site O Inimigo. Leia.


30.11.08

Now it's on, GRINGO!!!

Alguns de vocês já devem ter visto, mas o negócio agora é pra valer. Está no ar, em full extreme noise terror, o site O Inimigo, tocada pelas malévolas mentes de Hugo Morais, Tiago Lopes, Daniel Faria e do próprio que vos escreve.



O lay-out definitivo, criado pelo casal bizarro Alexandre Honório e Kênia Castro (um milhão de obrigados, bróders!), tá supimpa, simples, eficiente e elegante. Perfeito pra começar uma revolução. O negócio agora é manter o barraco atualizado, com resenhas de discos, matérias, entrevistas, artigos e o que mais aparecer.

Na estréia, tem um monte de coisa boa pra ler. Tem uma ruma de entrevistas que fizemos por ocasião do Festival DoSol e já estão no ar há algum tempo, mas que valem uma lida. Estão bons nomes favoritos da casa como Macaco Bong, Cätärro, O Garfo, Mukeka di Rato e quetais.

Nas resenhas, impressões sobre as novas bolachas do The Walkmen e d' Os Bonnies, já lançadas algum tempo mas que valem umas boas linhas.

E ainda tem a cobertura das duas noites principais do Festival DoSol 2008, matéria com o Sergio Ugeda do Debate e do selo Amplitude, artigo sobre os 50 anos de Bossa Nova e por aí. vai É uma refestelação sem limites.

Adicione aos favoritos, apareçam sempre que puderem e se preparem para a vindoura era do terror. Rá.

Ó paí, ó. Ui.

27.11.08

Piada pronta

Eis a capa de Alone II: The Home Recordings of Rivers Cuomo, segundo volume da compilação de demos e outras esquisitices gravadas pelo líder do Weezer, entre 1992 e 2008. A bolacha chegou nas lojas (gringas, claro) anteontem e, assim como primeiro volume da série, desovado no ano passado, vem recebendo boas críticas. Vale o download e, quem sabe, até uma compra mais ousada no E-Bay . A capa, como vocês todos podem comprovar, é absolutamente genial. Prova irrefutável de que em seus dias de juventude transviada, Cuomo andava perfeitamente sintonizado com as tendência capilares do cenário infanto-sertanejo brasileiro, como evidencia a foto abaixo.



20.11.08

It's the arts!

Se vivo estivesse, tio Bill cachoalharia as mandíbulas rindo desta presepada. Pior é que há quem goste e ainda pague dinheiro por isso.

A pergunta que não quer calar é: onde se viu um tiro de espingarda fazer um furinho fashionista na testa de alguém? No mínimo, teríamos uma bela sopa de miolos espalhada pelo tapete da sala de estar. Não entendeu? Leia a notícia abaixo, tirada do G1.

Em tempo: William Burroughs não matou sua esposa com um tiro de espingarda e sim com uma pistola. Saravá.

Obra de arte mostra escritor beat matando Amy Winehouse

Artista criou estátuas de Amy em poça de sangue e William S. Burroughs com arma

Um artista plástico está expondo em Nova York uma estátua em tamanho real da cantora de rock britânica Amy Winehouse caída no chão em uma poça de sangue, com um tiro na cabeça. Ao fundo, há uma estátua também em tamanho real do escritor americano William S. Burroughs com uma espingarda na mão.

A instalação é do artista plástico italiano Marco Perego e chama-se O único rock star bom é o rock star morto. Ela está a venda por cerca de US$ 100 mil e começou a ser exposta na semana passada na Half Gallery, de Nova York.

Perego explica que a obra é uma brincadeira com um incidente envolvendo Burroughs. Em 1951, o escritor da "Beat Generation", que é célebre por seu envolvimento com drogas, matou supostamente por acidente a sua esposa, Joan Vollmer, com um tiro de espingarda na cabeça.

Em uma festa no México, Burroughs estaria tentando imitar a famosa cena da lenda medieval de Guilherme Tell, em que o arqueiro acerta com uma flecha uma maçã na cabeça de uma pessoa.

Na obra do artista plástico italiano, há também uma máscara de Minnie Mouse ao lado do corpo caído de Amy, que, segundo ele, é uma referência a um vídeo do YouTube em que a cantora aparece brincando com um rato ao lado do músico e amigo Pete Doherty.

Perego afirma que a obra é uma "espécie de homenagem" a estrelas do rock como Amy Winehouse, que, para o artista, servem de "animais de sacrifício para sociedade". Amy, assim como Burroughs, é conhecida pelo uso de drogas e álcool.

Um porta-voz da cantora disse que a obra exposta em Nova York é "engraçada".

"É um tributo engraçado. A artista parece estar presa dentro de uma personagem de tablóide que não é a Amy verdadeira. As pessoas em geral usam a imagem dela para vender seus trabalhos", disse o porta-voz ao jornal britânico The Times.


Perdeu, Amy!

17.11.08

O inevitável se aproxima

Essa semana soltaram outro trailer de Watchmen, o filme mais esperado com os dois pés atrás do lado de cá.

No novo preview, aparecem mais algumas cenas-chave da HQ original, como a invasão do apartamento do Comediante (incluindo o voô janela abaixo, mostrado de um ângulo diferente do trailer anterior), cenas da Silk Espectre e do Dr. Manhattan e um diálogo entre Coruja e Rorschach. O desajustado de sobretudo, aliás, aparece e fala um bocado no vídeo, provando que o desconhecido Jackie Earl Halley pode afinal ter sido uma boa escolha para o papel. Mesmo por pouco segundos, dá pra notar que o ator conseguiu - sabe-se lá como - transmitir na voz e na postura a presença incômoda e sombria de Rorschach. Uau.

Em relação às cenas do Dr. Manhattan, ainda há algo que me incomoda bastante na caracterização do semi-deus Azulão. Ultimamente tenho tido pesadelos onde o Hulk de Ang Lee se apresenta num boteco sujo, tocando versões emo de Bob Dylan. Talvez exista alguma relação, não sei. Mas o fato é que a caracterização do personagem ainda me parece excessivamente artificial.

Mas verdade seja dita: as novas cenas injetaram uma pequena dose de otimismo em mim. A palavra "visionário" na frente do nome de Zack Snyder continua tão ridícula quanto antes, que fique bem claro. Mas a julgar pelo tratamento dado a algumas cenas importantes, a estranha suspeita de que o sujeito tenha afinal aprendido algo começa a se insinuar. Oh, céus...!

A data de estréia está marcada para 06 de março de 2009.

Para ver o novo trailer, entre no site do filme. Clica aqui.


Tenho uma sugestão para uma adaptação REALMENTE revolucionária... OK, esqueçam.


15.11.08

Execício # 2: Do comportamento das aranhas (urbanas)

É típico do comportamento das aranhas urbanas estancar a marcha sem motivo aparente - às vezes na quina da parede ou na beira de um precipício - quando estão a caminho de algum compromisso inadiável e se pôr a esfregar com força as patas dianteiras uma nas outras ou no rosto. Não se trata, como a sabedoria popular talvez insista em afirmar, de um sexto sentido que as alerte do perigo próximo e prejudicial a sáude. Longe disso: na maioria das vezes, o ato brusco e atribulado tem mais relação com a memória sobrecarregada desses atarefados seres do que com meditações cotidianas sobre a mortalidade.

Desajeitadas, essas criaturas freqüentemente deixam a teia ou o ninho (se a aranha em questão for mãe de família), em desabalada pressa, esquecendo sem a menor parcimônia a carteira de dinheiro, documentos, relógios ou as chaves do carro. Como conseqüência do costume involuntário, o senso de precaução as obriga a parar e checar se levam consigo todos os apetrechos necessários a sua sobrevivência diária. Caso se verifique a falta de algum item essencial, imediatamente giram em torno das oito patas e se põem a percorrer o caminho de volta, não sem os resmungos e xingamentos de praxe, como é próprio do comportamento rabugento das aranhas.

No caso das espécies peludas, há uma preocupação estética adicional com o asseamento das pernas ou da barba no caso dos machos, em especial naqueles indivíduos de tez mais escura. Ao inventário desses somam-se um pente e um espelho portátil, de boa superfície refletora, comprado nos estabelecimento mais modesto da região, o que denota outro comportamento inerente às aranhas: a incurável sovinice. Desnecessário dizer que, no caso do esquecimento desses itens essenciais, a carga de palavrões é intensificada e redobrada.

No caso excepcional de ordem absoluta no inventário pessoal, a aranha urbana e moderna rapidamente retoma o passo rumo ao compromisso adiante, com humor e confiança reforçados.

14.11.08

Grandes bobagens da internet


O site Akinator tem uma brincadeira tão viciante quanto besta. O negócio é o seguinte: você entra na página e pensa em um personagem - dos quadrinhos, TV, cinema, literatura ou qualquer figura real, de artistas plásticos frescos à políticos de qualquer parte do mundo - e o tal Akinator, o "Gênio da Web" adivinha por meio de uma série de perguntas.

Faz mais ou menos meia hora que estou nessa e o tal boneco não errou uma. E olhe que eu não dei folga. De J.D. Salinger, The Dude (do Grande Lebowski) e Bob Dylan, passando por Russo , Gretchen e Mussum, o Gênio acertou todas.

Se você não tem medo de desafiar as forças do mal, clique aqui e perca alguns saudáveis minutos do seu dia. Ah, o site - e as perguntas, óbvio - são em inglês.

9.11.08

Introducing The Heavy Trap's \m/

A crônica metaleira no Brasil, apesar de ainda escassa, faz justiça a nomes de inegável importância para as hordas trajadas de preto como Dorsal Atlântica, Sarcófago, Salário Mínimo, Harpia dentre tantos outros incensados como defensores máximos do estilo no país.

Um grupo, no entanto, permanece relegado aos porões escuros do underground heavy, cultuado apenas por uma pequena minoria devota de fãs. Graças a internet e a alguns headbangers de boa vontade, o mundo não precisa mais ser sofrer com tamanha lacuna musical.

Eis então, o melhor e o mais injustiçado grupo de metal brasileiro. Com vocês, The Heavy Trap's numa performance irrepreensível do clássico "Tô Sem Sorte", tirada do filme Os Trapalhões no Reino da Fantasia (1985).


7.11.08

Meu candidato


Nesse cara eu votava.

5.11.08

Pare de inventar desculpas...

... e vá ver esse filme. Agora.

4.11.08

Sobrivendo no inferno - e ainda achando bom!


Fim de semana que passou findou-se a primeira etapa do Festival DoSol 2008. O negócio foi de impressionar olhos e ouvidos incautos. Som e luz de primeira, shows memoráveis e cerveja relativamente barata (era Sol, mas OK, dessa vez passa), cachorros-quentes estratégicos e gente feia a dar com pau. Ou seja, tudo que um bom festival de rock tem que ter.

Mais detalhes sobre o massacre que contou com a presença de gente do naipe de Macaco Bong, MQN, Black Drawing Chalks (foto metal acima), Forgotten Boys, Catarro, Camarones Orquestra Guitarrística, Mukeka di Rato e as gringas The Donnas no blog do ainda vindouro site O Inimigo.

Clica aqui e te vira. E aproveita e coloca o endereço no teu favoritos, porque dias 12 e 13 têm a segunda etapa do DoSol com shows de O Garfo, Debate, Elma, Os Poetas Elétricos e Edu Gomez.

[[P.S.:]] A visualização do blog com o Internet Explorer vem apresentando alguns problemas. Para melhor se refestelar, melhor usar o Mozilla Firefox, Safari ou outro navegador de sua preferência.

31.10.08

Saudades do filho


Tradução livre de "Missing My Son", de Tom Waits

(in Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards, 2006, ANTI)

Eu tava outro dia na fila do supermercado, nada demais, só esperando para colocar minhas coisas na esteira do caixa e dar o fora dali. E bem na minha frente tinha uma dona que, de repente, sem motivo nenhum, começa a me encarar. Bem, eu vou ficando um bocado nervoso com aquilo e começo a disfarçar e tentar fingir que não estou notando, mas não adianta e ela continua a me encarar fixamente. Até que finalmente ela se aproxima e diz: “Por favor, me desculpe ficar te encarando assim, eu sei que é chato e tal”, esse tipo de coisa. “Mas é que você é a cara do meu filho... que morreu. E eu não consigo parar de olhar pra você”. Daí ela começa a mexer dentro da bolsa e tira de lá uma fotografia do falecido pra me mostrar. O sujeito não se parece nada comigo. O cara é chinês, na verdade.

Bem, ficamos de papo por um tempo e daí ela diz: “Desculpa, mas você se importa de, quando eu for saindo do supermercado, dizer ‘Tchau, mamãe’ pra mim? Eu sei que é esquisito e tal, mas é que faz tanto tempo que não ouço meu filho dizer ‘tchau’ pra mim ou ‘até logo’... e me faria tão bem ouvir isso agora. E, olha, se você não se importar...”. E eu digo, meio sem graça: “É, ok, tudo bem, eu acho. Posso fazer isso”. Ela recolhe as compras no caixa e eu fico olhando enquanto ela atravessa a loja em direção a saída. Antes de passar pela porta ela se vira pra mim, acena e diz: “Tchau, filho!”. E eu olho pra ela, ergo o queixo, aceno de volta e digo: “Tchau, mamãe!”.

E aí ela sai, finalmente, e chega minha vez e eu começo a passar minhas compras na esteira e o sujeito do caixa vai conferindo as coisas. Quando termina ele vira pra mim e diz: “Deu quatrocentos e setenta e nove dólares”. E eu digo: “O quê, mas será possível?! Eu só tô levando uma latinha de atum, um caixa de leite, um pouco de pão e mostarda...” E ele diz: “É, mas você está pagando pelas compras da sua mãe também, não tá? Ela disse que acertasse com você”. E eu digo: “Ei, peraí, ela não é minha mãe!”. E ele responde: “Mas eu ouvi muito bem quando ela virou pra você e disse ‘Tchau, filho!’ e você respondeu ‘Tchau, mãe!’ pra ela. Que é que tá acontecendo aqui, afinal?”. E eu digo: “PORRA!” e quando olho pro estacionamento a dona está entrando no carro, pronta pra sair. Eu corro até lá e ela já tá quase fechando a porta, começando a tirar o carro, e eu agarro na perna dela e começo a PUXAR!... Que nem eu tô puxando a tua *.

* Em inglês, “puxar a perna de alguém” quer dizer “tirar onda”, “sacanear”. É um gíria meio idosa, bem mais usada pela velha guarda do que pelos jovens. Tentei, mas não consegui achar nenhum equivalente em português que soasse adequado e ainda por cima preservasse a piada do final. Acabou ficando literal e capenga, admito.

Ouça a versão original de "Missing My Son":


29.10.08

It's alive, it's alive!!!!


Demorou, mas saiu. Em termos, pelo menos.

O Inimigo, revista eletrônica sobre música (seja lá o que issoa queira dizer) que vinha sendo arquiteda há algum tempo, em várias mesas de bar finalmanete inicou suas atividades. Ainda em caráter experimental, no duvidoso formato de blog, a idéia começa a ganhar forma.

Na rabeira do Festival DoSol, estamos aí. Acesse www.oinimgo.com/blog e se refestele. Depois a gente melhora a cara. Por enquanto, vamos postando a produção recente.

Agradecimentos especial à Alexandre Honório e Kênia Castro, o casal DZ3.

16.10.08

Enquanto o mundo dorme...

Eis algo para tirar o sono dos incautos e que talvez ajude a entender porque eu insisto tanto em arrumar motivos para falar desses caras.

[[Mogwai - "Glasgow Mega-Snake"]]

[Ao vivo - Shikinba Studio Coast, NY - Novembro de 2006]

Detalhe: o baixinho careca é o dono da banda, por mais sinistro e pertubador que possa parecer.

[[Atualização]]: O grande Vlamir Cruz transmite por email o link de uma entrevista "semiquase real" com o veterano Bob Crazy, baixista de monolitos do rock provinciano como Fluidos e Cabeças Errantes. No site Lado Norte, ou seja, aqui.

13.10.08

Crônica pop: Dinossauros efervescentes

Gênero nefasto, comumente – e, em 90% dos casos, certeiramente – atribuído a chatice e a pompa desnecessária, o rock progressivo pode ser considerado o ogro feio do rock’n roll. Comumente caindo na prateleira do “não ouvi e não gostei”, as bandas do estilo quase sempre só encontram admiradores entre fileiras de tiozões saudosistas ou nerds do laboratório de informática.

Os modernos, que preferem gastar seus tostões em coisas menos inúteis do que discos ou revistas sobre música, fogem desse tipo de sonoridade como o diabo da cruz, jogando tudo na pasta de quarentena imaginária do PC, enquanto ignoram que boa parte dos artistas atuais ditos “de vanguarda” e que encontram lugar confortável no gosto desses mesmos seres antenados devem até o fundo das calças a nomes empoeirados como King Crimson, Yes e Gentle Giant. Figuras como Arcade Fire, Radiohead, Mars Volta e tantos outros estão aí para não me deixar mentir.

Dentre todos esses dinossauros do passado, o mais popular e, talvez por isso mesmo, mais injustiçado é o Pink Floyd (saltitantes, nos idos de 68). Típico caso da banda que virou instituição, o grupo de Roger Waters e David Gilmour é figurinha carimbada no aparelho de DVD ou na trilha sonora ambiente de "rock bares" descolados. Mas são comumente conhecidos graças à uma bobagem como “Another Brick in the Wall”, que atinge desde o teu pai até o flanelinha que te cobra 5 pilas na saída do mesmo bar, o que joga por terra toda as credenciais que a música do grupo poderia ganhar (se é popular e todo mundo conhece, logo não presta).

Calma que o buraco é mais embaixo. Antes de virar uma punheta musical de raio laser, palcos duplos e álbuns conceituais, o Floyd foi um dos grupos mais inventivos a sair da Inglaterra no final dos anos 60. E, como criatividade e coerência artística não vêm de graça pra ninguém, a banda foi protagonista de um dos maiores dramas internos da história da música pop.

A história está muito bem contada no excelente livro do jornalista inglês John Harris, The Dark Side of the Moon: Os bastidores da obra-prima do Pink Floyd. Diferente do que o infeliz título entrega, Harris não se prende a relatar somente a gravação do clássico álbum de 1974, tão enraizado na cultura inglesa que estima-se que uma em cada cinco casas do país possua uma cópia. Ao contrário: as gravações de The Dark Side... são apenas o clímax do livro que, por meio de entrevistas com os músicos originais e pessoas envolvidas na produção da banda, figuras da cena psicodélica londrina e demais vozes relevantes, traça um perfil completo e interessante do inferno astral no qual o Pink Floyd foi jogado após a derrocada definitiva do líder Syd Barret.

Vindo do cenário underground da Cambridge de fins dos anos 60, quando a efervescência psicodélica da Costa Oeste dos Estados Unidos, mais a literatura beat e todo o levante contracultural, que ainda incluía as artes gráficas e o cinema, atingiu todos os inferninhos da região, o grupo então formado por Syd Barret (guitarra e voz), Roger Waters (baixo), Richard Wright (teclados) e Nick Manson (bateria), produziu um álbum de estréia que pavimentava um caminho auspicioso para o pop da época. The Piper at the Gates of Dawn, com suas faixas que mesclavam experimentalismo e senso pop em doses iguais, unia a chapação da psicodelia com imagens tiradas da literatura infantil e um senso de loucura até então charmoso.

Quando a ameaça se provou concreta e verificou-se que, de fato, Barret, figura central do grupo e autor de praticamente todas as faixas do álbum, sofria de problemas mentais potencializados pelo abuso de drogas, os outros três integrantes se viram jogados na Rua da Amargura. Assumindo o comando, Waters recruta o galã David Gilmour para a guitarra que, apesar de não levar muita fé no futuro da banda, aceita o convite atraído pela possibilidade de “fama e garotas”, como ele próprio admitiu depois. O problema é que Roger Waters ainda não era um compositor de verdade. No livro, Harris chama “Take Up Thy Stetoschope and Walk”, única contribuição de Waters em Piper… de “uma embromação musical que resultou na única falha berrante do disco”.

As críticas ao segundo álbum da banda, A Saucerful of Secrets, também não foram muito elogiosas. Numa resenha datada de outubro de 68, o crítico Jim Miller, da Rolling Stone, classifica o disco como “medíocre” e taxa as composições de Waters de “melódica, harmônica e liricamente chatas”. Não totalmente sem razão, aliás. Mesmo contendo excelentes momentos como “Set the Controls for the Heart of the Sun” (só pelo título, já valia alguma coisa), o disco se perde na triste tentativa da banda de emular o estilo e a genialidade do líder deposto. “Juggerband Blues”, última contribuição de Barret na banda, fecha o álbum com um clima melancólico de despedida (“I 'm not there (...)/And I wonder who could be writing this song")

Nos anos subseqüentes, o Pink Floyd encontraria outros muros, nos quais continuaria quebrando a cara. De 1969 a 1971, a banda enveredava por uma idéia mais esdrúxula do que a outra, todas fadadas a dar errado. De trilhas sonoras para filmes obscuros e espetáculos do balé de Marshella, além de um filme-concerto incompreendido (Live at Pompeii, gravado nas ruínas da velha cidade romana, com a banda tocando apenas para a equipe de produção), tudo contribuía para a derrocada definitiva de uma banda talentosa e promissora. O rumo só foi recuperado com Meddle (ao lado), álbum de 71, e com a suíte “Echoes”, que ocupava um lado inteiro do vinil com saudáveis 23 minutos de versos psicodélicos e estranhos, fraseados de blues e experimentação sonora.

Daí pra frente, a cama estava feita para Dark Side of the Moon, ápice criativo antes do declínio definitivo que pariu chatices monumentais como The Wall, The Final Cut e The Division Bell.

O ouro, porém, se esconde antes, justo nesse entre-safra que marca o caminho para o topo. Não custa nada pendurar os preconceitos de lado e dar uma chance a um velho dinossauro. Afinal, Vovó Zilda e Tio Roy é que eram massa mesmo.

[[P.S.:]] Se você foi acometido por algum tipo de iluminação divina, esse blog tem a discografia completa do Floyd pra download. Evite tudo o que vier pós-74 e você se sairá bem.

12.10.08

Angels vs. Aliens

8.10.08

Top-top-top-uh!!!

Pra botar pra frente essa idéia de que a internet é uma grande comunidade, com pessoas de todo os gostos, perfis e lugares conectadas, nêgo é capaz de inventar trocentas bobagens. A mais recente, me apresentada pelo careta gente boa Daniel Faria é o tal do meme.

Pelo nome dá pra sacar o grau de frescura. O negócio é, basicamente, o seguinte: faz uma listinha com sete músicas, depois dá o nome de cinco outros blogueiros que devem continuar a história adiante.

Tipo uma corrente daquelas que vinham pelo correio, com a diferença de que ninguém corre o risco de perder o emprego ou ser atropelado ao atravessar a rua, depois de aceitar um pedido de casamento ou coisa do tipo. Em tese, ao menos, estamos seguros.

Por mais ridículo que possa parecer - e de fato é - todo jornalista que se preze adora fazer lista, seja lá do que for. Se for relacionada a música então, vixe. Quer oportunidade melhor pra pagar de bacana em mesa de bar? E, convenhamos: o que é a "blogosfera" senão uma grande mesa de bar onde há muito tempo se perdeu a conta das cervejas , estamos todos lisos e ninguém dá a mínima pra quem vai pagar o prejuízo?

E pra piorar, eu, como não tenho nada melhor pra fazer mesmo, fiz duas listas: uma com músicas nacionais, outra com as gringas.



[[Nacionais]]

1)"Minha Cunhada", dos Raimundos
2)"Eu Digo Sete", da Graforréia Xilarmônica
3)“Sobremesa”, de Chico Science & Nação Zumbi.
4)“Revendo Amigos”, de Jards Macalé
5)"Mestro”, do Hurtmold
6)“Riffs”, dos Superguids
7)“Será Que Eu Vou Virar Bolor?”, de Arnaldo Baptista

[[Gringolândia]]
1)“Snowblind”, do Black Sabbath
2)“Rainy Day Women #12 & 35”, de Bob Dylan
3)“1970”, de Iggy & the Stooges
4)“Last Goodbye”, de Jeff Buckley
5)“Jesus, Etc.”, do Wilco
6)“Powderfinger", de Neil Young & Crazy Horse
7)“Buddy Holly”, do Weezer

E as próximas vítimas são...: Hugo Morais, Marcelo Morais (Não são parentes, até onde se sabe), Wagner Brito e... basicamente, só. Não conheço ou não me lembro agora de mais blogueiros e como o próprio Daniel já escolheu Tiago Lopes, fico sem quarta opção. Que dirá, uma quinta.

3.10.08

Um grande maldito

Por uma dessas convenções que não se sabe bem de onde aparecem, certos compositores vão pra cova com a alcunha MALDITO estampada na testa. Isso, hoje em dia, dá até um certo charme. É bom ser "cult", incompreendido e só conhecido por aquele grupelho intelectualóide que habita as sessões de cinema de arte pelo país afora. Jards Macalé, que não era nem bobo nem tropicalista, sabia das coisas. Mas nem assim escapou de levar a desnecessária tarja preta na cara.

O cara é um gênio, ponto final. Se ele escreveu "Vapor Barato", que gerou uma infinidade de versões horrorosas nos anos subsequentes, a culpa já não era mais dele. Inclassificável, Macalé fez samba, pop, jazz, rock, psicodelia e o escambau, sem nunca perder a verve poética e irônica - seja na fossa ou na galhofa.

Dia desses, topei com o sujeito sendo entrevistado no programa de Paulo César Pereio, que passa no Canal Brasil. Entrevistado era modo de dizer. O negócio era basicamente os dois sentados numa cozinha com uma câmera ligada e conversando sobre qualquer coisa, Macalé fumando um cigarro atrás do outro. Interessante a princípio, mas enfadonho depois de alguns minutos.

Enfim, o fato é que fuis cascaviar atrás de ouvir e baixar outras coisas blogs afora. Catei Jards Macalé (1972), disco de estréia gravado com acompanhamento de power trio, quase roqueiro: Macalé no violão e voz, Lanny Gordin no violão de aço e no baixo, e Tutty na bateria. Na sequência, Aprender a Nadar (75), com arranjos mais sofisticados e igualmente geniais. Baixe clicando nas capas e curta essa lombra.



Jards Macalé (1972)

01. Farinha do Desprezo
02. Re
vendo Amigos
03. Mal Secreto
04. 78 Rotações
05. Movimento dos Barcos
06. Meu Amor me Agarra & Geme & Treme & Chora & Mata
07.
Let's Play That
08. Farrapo Humano - A Morte
09. Hotel das Estrelas







Aprender a Nadar (1975)

01. Jards Anet da Vida
02. Dois Corações / No Meio do Mato / O Faquir da Dor / Ruas Real Grandeza / Pam Pam Pam
03. Imagens
04. Anjo Exterminado
05. Dona de Castelo
06. Mambo da Cantareira
07. E Dai?
08. Orora Analfabeta
09. Senhor dos Sábados
10. Boneca Semiótica