16.5.08

Bolachas fundamentais # 1: Pink Moon (1972)


*Publicado originalmente em algum lugar do passado, como parte de um texto bem maior, no portal RockPress.

Em 1970, depois do fracasso comercial de seus dois primeiros álbums (Five Leaves Left e Bryter Later, ambos brilhantes) Nick Drake se isolou num pequeno apartamento em Londres, de onde só saia para comprar comida e haxixe ou tocar em algum boteco das imediações.

O retorno ao mundo dos vivos só se daria um ano depois, quando numa madrugada de outubro de 1971, entrou em estúdio acompanhado apenas do engenheiro de som John Wood para gravar aquele que seria seu terceiro e derradeiro disco. Em cerca de duas horas onze canções foram finalizadas, sem overdubs e quase sempre no segundo ou terceiro take.

Com exatos vinte e oito minutos de duração, Pink Moon repetiu a pouca vendagem dos álbuns anteriores, mas chegou a receber uma atenção maior da crítica. Nas onze faixas, Drake destila toda a sua frustração em relação ao seu não-reconhecimento e a sua frágil condição de saúde. A simplicidade dos arranjos, mais intimistas do que nunca, somente com Drake ao violão e sobrepondo um piano na faixa-título, dá um certo tom lúgubre ao álbum.

Poeticamente, Drake encontra seu momento de maior maturidade. A poesia de influência beat dos discos anteriores adquire um caráter mais redentor e "iluminado", ainda que carregada na dose de amargura, como em "Place to Be" ("I was strong, strong in the sun/(...)Now I'm weaker than the palest blue/Oh, so weak in its need for you"). Em algumas faixas nota-se também um certo caráter enigmático, como se Drake estivesse cantando para si mesmo, aludindo a situações conhecidas e vividas somente por ele.

"Parasite" é uma espécie de conto autodepreciativo sobre um sujeito errante, enquanto a faixa-título parece conter uma mensagem cifrada ("Pink Moon is on its way/ None of you stand so tall/ Pink Moon gonna get you all"). Ainda há espaço para um discreto otimismo na perspectiva do recomeço ("Road", "Harvest Breed"), um rápido levante de auto-estima ("Free Ride"), e reminiscências da infância ("From the Morning"). Despido dos arranjos exagerados de Five Leaves Left e da elegância jazzy de Bryter Later, Nick pôde cometer seu trabalho mais pessoal, assinando um atestado de genialidade com sangue e vísceras.

Mais uma vez desapontado pela fraca repercussão de seu trabalho e cada vez mais debilitado, o cantor decide retornar à casa dos pais. Em 1974, volta a contatar John Wood e o produtor Joe Boyd (com quem trabalhara em seus dois primeiros discos) para um possível quarto álbum. No entanto, durante uma única sessão de estúdio em fevereiro daquele ano, mostrou-se tão fragilizado a ponto de mal conseguir cantar e tocar violão ao mesmo tempo.

Em novembro, Nick Drake seria encontrado morto em seu quarto. A autópsia revelou uma grande quantidade de antidepressivos no organismo do cantor, o que levanta até hoje a hipótese de suicídio.

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