31.5.08

Do the d-evolution

Só porque os anos 80 foram bizarros, mas por increça que parível, algumas coisas boas surgiram naqueles anos nefastos. E, na real, o Devo escapa tranquilo dessa sina: a década maldita marcou o auge da banda, mas os heróis da "de-evolução" começaram a aprontar das suas nos idos de 1973 em Akron, Ohio.



A teoria de que a humanidade, ao invés de progredir, estaria regredindo tornando-se cada vez mais primitiva e burra surgiu como uma piada entre os amigos Gerald Casale e Mark Motherbaugh, no início da década de 70. Logo, com a ajuda de outros comparsas não menos insanos, os dois transformaram a idéia numa das bandas mais criativas e críticas de todos os tempos que não via problemas em soar punk, new wave ou pop - às vezes numa mesma faixa.

O álbum de estréia, Q: Are we not men? A: We are Devo! saiu em 78, recheado de clássicos instântaneos como "Mongoloid", "Gut Feelling" e "Incontrollable Urge" (mais tarde coverizada pelos garageiros do Mummies em alguns shows). Mas o grande destaque era a estranha versão para "Satisfaction" dos Stones, marcada por um andamento robótico e pelo que pode ser definido como um "anti-riff" (?) de guitarra. Melhor que a original, na minha modesta opinião.

Dois anos depois, emplacaram o hit "Whip It" do álbum Freedom of Choice, que acabou puxando a faixa-título a reboque. De Oh, no! It's Devo! (82) saíram "Peek A Boo" e a genial "That's Good".

Para ter uma idéia do quanto essa banda é boa, tenham em mente o seguinte: enquanto todo mundo mergulhava de cabeça na temível sonoridade e estética dos anos 80 (sintetizadores, bateria eletrônica, teclados-guitarra, cromaqui, etc), o Devo fez questão de se utilizar fartamente desses recursos, mas sempre como tiração de onda em tempo real. Ou seja: os caras faziam piada com os anos 80... durante os anos 80! Coisa de gênio.

Enfim, eis alguns vídeos da banda, cuidadosamente pinçados do YouTube.

P.S.: Curiosidade besta: o vocalista, guitarrista, tecladista e o-que-mais-aparecer Mark Mothersbaugh, que você de óculos em todos os vídeos abaixo, compôs a trilha incidental dos filmes Rushmore, Os Excêntricos Tennenbauns e A Vida Marinha com Steve Zissou, todos de Wes Anderson. Neste último, há uma música do Devo na trilha sonora.

[[(I can't get no) Satisfaction]]


[[Whip it]]


[[That's good]]

29.5.08

Rolling Stone gringa lista as 100 melhores canções de guitarra

A Rolling Stone gringa deu vazão aos sentimentos e tascou outra daquelas listas que jornalistas musicais fazem quando nenhuma banda rende uma matéria de quatro páginas ou nenhum disco na seção de resenhas vale mais do que duas estrelas (quase sempre, nos últimos tempos). O mote da vez foram as 100 melhores canções guitarreiras de todos os tempos.

O primeiro lugar foi pra Chuck Berry que, há 58 anos, cunhou o único riff de sua vida - o de “Johnny B. Goode”. Desde então, vem se esforçando em reescrevê-lo, sendo fartamente recompensado em royalties.

Na rabeira de Berry, aparecem figuras tarimbadas como Hendrix, Cream, Kinks e Van Halen.

Pois bem. Na minha modesta opinião, há algo de muito errado quando Neil Young (à esquerda) não dá as caras entre as primeiras posições de uma lista (de qualquer tamanho) que envolva guitarra. Sem falar na duvidosíssima escolha da bandeirosa "Stairway to Heaven" em detrimento de todo o catálogo de músicas colhudas do Led Zeppelin ("Communication Breakdown", por exemplo, chutava o teto, tranquilo. "Heartbreaker" e "In My Time of Dying" também).
Moral da história: nunca confie na Rolling Stone.

Eis abaixo os vinte primeiros nomes da lista. A lista completa está aqui.


1- "Johnny B. Goode" - Chuck Berry (1958)
2- "Purple haze" - The Jimi Hendrix Experience (1967)
3- "Crossroads" - Cream (1968)
4- "You really got me" - The Kinks (1964)
5- "Brown sugar" - The Rolling Stones (1971)
6- "Eruption" - Van Halen (1978)
7- "While my guitar gently weeps" - The Beatles (1968)
8- "Stairway to heaven" - Led Zeppelin (1971)
9- "Statesboro blues" - The Allman Brothers Band (1971)
10- "Smells like teen spirit" - Nirvana (1991)
11- "Whole lotta love" - Led Zeppelin (1969)
12- "Voodoo child (Slight return)" - The Jimi Hendrix Experience (1968)
13- "Layla" - Derek and the Dominos (1970)
14- "Born to run" - Bruce Springsteen (1975)
15- "My generation" - The Who (1965)
16 – “Cowgirl in the Sand” – Neil Young & Crazy Horse (1969)
17 – “Black Sabbath” – Black Sabbath (1970)
18 – “Blitzkrieg Bop” – Ramones (1976)
19 – “Purple Rain” – Prince and the Revolution
20 – “People Get Ready” – The Impressions

28.5.08

Chupa que é de...

Já está no ar a entrevista feita pela equipe do e-zine Disruptores com o produtor Jomardo Jomas, o homem por trás do festival Mada, que esse ano completa uma década de existência e rola entre os dias 14 e 16 de agosto próximo.

Na entrevista, Jomas esclarece uma polêmica recentemente externada sobre uma possível rivalidade entre o seu festival e o outro que completa o calendário natalense voltado para a música independente. A saber, o Festival DoSol, capitaneado por Anderson Foca, dono do selo e bar de mesmo nome.

Além de rebater as alfinetadas que levou de Foca, Jomardo Jomas aproveita para dizer umas verdades sobre a dita "cena" da província, além de adiantar algumas pistas e derrubar alguns boatos em torno da escalação do Mada 2008.

Como bônus, há um texto meu sobre Uma Tarde na Fruteira, disco novo de Júpiter Maçã.

Acessem clicando aqui.

25.5.08

Ás vezes eles voltam

Eis que o tal retorno triunfal do Weezer se concretiza. Já a solta na rede o vídeo do primeiro single de The Red Album, que retoma as atividades após o terceiro final falso da carreira da banda.

Pior que dessa vez eu acreditei. E fui além: ainda comemorei, dado a descida de ladeira fenomenal que os caras vinham empreendendo nos últimos tempos, em especial, no mais recente e mais terrível álbum da história da humanidade, Make Believe (05). O problema é que eu gosto muito da banda que eles foram nos dois primeiros álbuns (o famoso Blue Album e cultuado Pinkerton). Só que Rivers Cuomo, o manda-chuva da história, faz tempo decidiu conscientemente que ele não quer mais ser aquele cara que parecia Buddy Holly e estava cansado do sexo. Vide as porcarias que ele escreveu nos últimos oito anos. E pra piorar, agora inventou de deixar crescer um bigode.

Mas, contrariando minha vontade de falar mal de uma banda que eu gosto (o supra-sumo do mau humor), tenho que admitir que a musiqueta nova, "Pork and Beans", é até bem escutável. É boa, admito.

Eis o vídeo, que faz referência a outras pérolas do besteirol que circulam no YouTube. Se você conseguir identificar mais do que cinco referências, deve estar com sérios problemas na sua vida social.



23.5.08

Ouçam a voz da sabedoria

Pérolas de sapiência da mente doentia de William S. Burroughs, o mais canalha de todos os beatniks:


"Um paranóico é alguém que tem uma vaga noção do que está acontecendo."

"Em um estado de tristeza profunda, não há lugar para sentimentalismo".

"Não me importo se a maioria das pessoas me odeia. A questão mais importante é se elas estão em posição de fazer algo a respeito".

"O desespero é a matéria bruta de uma mudança drástica. Somente aqueles que são capazes de deixar para trás tudo aquilo em que sempre acreditaram têm chances de escapar."

"A face do mal é sempre a face da total necessidade"

"Aparentemente sou alguma espécie de agente de outro planeta. Mas não tive minhas ordens decodificadas ainda."

"Linguagem é um vírus da palavra. Digo que a palavra é um vírus, sendo que um vírus que atingiu equilíbrio com seu hóspede. Ele se multiplica dentro da célula sem feri-la. Pensamos que usamos a palavra, mas na realidade ela é que nos usa."

"O silêncio só assusta a quem está sempre verbalizando tudo".

"Desça a rua, qualquer rua, gravando e fotografando tudo que você ouvir e ver. Vá então para casa e escreva a respeito de suas observações, sentimentos, associações e pensamentos. Depois compare suas anotações com as evidências fornecidas pelas fotos e fitas. Você vai descobrir que sua mente registrou apenas uma fração de sua vivência. O que você deixou de fora talvez seja o que você precisa saber. A verdade pode aparecer apenas uma vez e nunca mais se repetir."


*Nos arquivos secretos do finado (?) Gordurama há um artigo massa assinado por Rodrigo L. Damasceno sobre Junky, romance de estréia do homem. Leia aqui e corra pra livraria (ou sebo) mais próximo.

21.5.08

Sobre Café e Cigarros


Há algumas horas atrás eu terminei de ler um livro. Este livro está em meu poder e agora, enquanto escrevo, está depositado em cima da minha estante, perto do computador, com a lombada do título voltada para mim. O livro se chama Café-da-Manhã dos Campeões e me foi emprestado pelo meu amigo Davi. O livro foi escrito na década de 1970 por um norte-americano chamado Kurt Vonnegut. Ele está morto agora.

Quando vivo, o Sr. Vonnegut era um homem inconformado e um tanto amargo, ainda que escrevesse muitas coisas engraçadas. Por causa destas coisas engraçadas que ele costumava escrever muita gente pensa nele como uma espécie de comediante literário. Se eu pudesse falar com estas pessoas diria a elas da melhor maneira que eu encontrasse que elas provavelmente não leram com atenção os livros do Sr. Vonnegut ou, em hipótese mais extrema, não leram absolutamente nada do que ele escreveu. Eu estaria sendo acusatório e arbitrário se dissesse algo assim, mas isso é normal da minha personalidade.

Se estas pessoas quisessem continuar com esse tipo de pensamento desmiolado eu lhes diria para ler com mais atenção o livro que já citei e que me foi emprestado pelo meu amigo Davi, Café-da-Manhã dos Campeões.

Eis do que trata o livro:

Kilgore Trout é um desconhecido escritor de ficção científica que teve boa parte de seus trabalhos publicados em revistas pornográficas de baixa qualidade. Dwayne Hoover é um vendedor de carros bem sucedido e tido como modelo de honestidade em sua pequena cidade. Por algum motivo, Hoover começa a ter episódios ruins e vai progressivamente perdendo o controle de suas faculdades mentais. Kilgore Trout, alheio a tudo isso, começa uma viagem rumo a um festival de artes na cidade de Midland, para o qual ele não sabe bem como ou por que foi convidado. Midland é por acaso a cidade onde mora Dwayne. Trout espera que sua aparição no festival, como exemplo perfeito de um escritor fracassado, possa restituir seu precioso anonimato quebrado por esse estranho convite. O encontro entre esses dois personagens provocará uma grande mudança na vida de Dwayne Hoover e na da cidade de Midland. Para Trout, será apenas mais um fracasso habitual.

Isso é o que o livro conta. Eis o que eu entendi dele e o que eu diria às pessoas que também o leram e não entenderam ou que ainda não leram o livro, mas pretendem fazê-lo em breve:

Café-da-Manhã dos Campeões é um livro sério, embora tenha muitas coisas – e desenhos – engraçados escritos nele. Durante a leitura deste livro é normal que você dê um sorriso de canto de boca. Um sorriso melancólico, quero dizer, e nada além disso. Uma gargalhada, no entanto, indicará que você tem um senso de humor perigoso demais. O que o Sr. Vonnegut faz por meio do humor e de observações divertidas é apontar por meio do deboche acusatório a hipocrisia e o ridículo da sociedade norte-americana, que se movimenta incólume pelas ruas da pequena Midland e através do país.

Os personagens e suas motivações muitas vezes esdrúxulas, as convenções habituais do romance ocidental, racismo, sexo, ele próprio – nada escapa do ranço cínico e, por vezes, pessimista do Sr. Vonnegut. O desfecho do livro, com um dos protagonistas irremediavelmente arruinado e o outro reduzido à súplica inútil o transformam numa das mais amargas peças de literatura já escritas no século XX. Se realmente fosse uma refeição, Café-da-Manhã dos Campeões seria uma xícara de café preto com um maço de Pall Malls – os cigarros favoritos do Sr. Vonnegut, que Deus o tenha.

E isso é tudo o que tenho a dizer sobre esse livro. Existem muito mais coisas, claro, do que a minha opinião simplista e preguiçosa. Caso pareça insuficiente o que eu escrevi, você sempre pode ler o livro ao invés de perder tempo lendo o que outras pessoas escrevem a respeito.

E assim por diante.

Se alguém mais estiver realmente pensando em ler este livro, sinto-me no dever de avisar que uma editora muito conhecida por seus preços baratos no Brasil lançou esse e outro livro do Sr. Vonnegut a preços bastante acessíveis. Outra solução seria pedi-lho emprestado ao meu amigo Davi, mas não é muito fácil encontrá-lo. Ele tem um emprego que o está matando aos poucos e isso ocupa boa parte de seu tempo.


*Escrito em fins de 2007 e jogado em uma gaveta insondável de uma repartição pública. Recuperado dessa gaveta por Tiago Lopes por volta de março de 2008. Publicado pela primeira vez na Revista Wave no início de maio do mesmo ano.

19.5.08

Top 50 independente + 40 anos d' Os Mutantes na Senhor F

Em plena segunda-feira (19), o site Senhor F deu uma de jornalista inglês e listou os 50 discos mais importantes do cenário independente brasileiro nos últimos 10 anos.

Organizado em ordem alfabética pra não criar polêmica, a lista aponta com propriedade um monte de bons lançamentos que foram desovados de 1998 pra cá. Porém, contudo, todavia, ENTRETANTO, o pessoal às vezes força a barra pra incluir um ou outro nome mais conhecido, se valendo de discos meia boca lançados pelo tal artista durante o período em questão. Ora, ao invés de incluir Uma Tarde na Fruteira, disco novo de Júpiter Maçã lançado no início do ano pela Monstro Discos, não seria melhor admitir que o dito cujo não soltou nada de relevante - ou ao menos de repercussão suficiente que justificasse sua presença na lista- nos últimos dez anos (o indispensável A Sétima Efervescência saiu em 1996)? Deixa os caras.

Mas, justiça seja feita, a lista resgata bons nomes da cena "indie" que sumiram ou acabaram de vez como Acabou La Tequila, Video Hits, Thee Butchers' Orchestra, brincando de deus (assim, em minúsculas mesmo), entre outros.

Enfim, eis os 20 primeiros nomes da lista. Corra pra baixar em blogs descolados ou separe uma graninha da mesada e vá gastar nos sites dos selos comprando os discos originais. Não todos, que fique claro. Confie no seu taco e em sua inegável habilidade para separar o joio do trigo.

1.Acabou La Tequila – O som da moda (RJ)
2.Astromato – Melodias de uma estrela falsa (SP)
3.Autoramas – Stress, depressão e síndrome de pânico (RJ)
4.Beto Só – Lançando sinais (DF)
5.Bidê ou Balde – Se o sexo é o que importa, só o rock é sobre o amor! (RS)
6.Bois de Gerião – Bois de Gerião (DF)
7.Brincando de Deus – Brincando de Deus (BA)

8.Cachorro Grande – Cachorro Grande (RS)
9.Cordel do Fogo Encantado – Transfiguração (PE)
10.Eletrola – Eletrola (PA)
11.Faichecleres – Indecente, imoral e sem-vergonha (PR)
12.Frank Jorge – Carteira nacional de apaixonado (RS)
13.Galinha Preta – 3 em 1 (DF)

14.Grenade – Is an out of the body experience (PR)
15.Júpiter Maçã – Uma tarde na fruteira (RS)
16.Laranja Freak – Brasas lisérgicas (RS)
17.Lobão – A vida é doce (RJ)
18.Los Hermanos – O Bloco do eu sozinho RJ)
19.Los Pirata – Los Pirata (SP)

20.Los Porongas – Los Porongas (AC)

Confira o resto da lista aqui.

[[Mutantes: 40 anos ]]

A edição nova do site traz também um material comemorativo aos 40 d'Os Mutantes. Na verdade, não são textos inéditos, mas sim um apanhado do que de melhor o site publicou sobre a banda nos últimos dez anos.

Entre os mais interessantes, há artigos sobre as raridades lançadas por Sérgio, Arnaldo & Rita quando ainda atendiam pelo bizarro nome de O' Seis e uma antológica entrevista de 1969, originalmente publicada na revista Realidade. Quem solta o verbo também é o maestro Rogério Duprat, que estava para Os Mutantes como George Martin estava para os Beatles.

Curtam essa lombra aqui.


18.5.08

Com certas coisas não se brinca


Se até a embalagem dos teus cigarros está diferente, definitivamente há algo de errado com o mundo. Graças a Deus, é só uma edição especial.

16.5.08

Bolachas fundamentais # 1: Pink Moon (1972)


*Publicado originalmente em algum lugar do passado, como parte de um texto bem maior, no portal RockPress.

Em 1970, depois do fracasso comercial de seus dois primeiros álbums (Five Leaves Left e Bryter Later, ambos brilhantes) Nick Drake se isolou num pequeno apartamento em Londres, de onde só saia para comprar comida e haxixe ou tocar em algum boteco das imediações.

O retorno ao mundo dos vivos só se daria um ano depois, quando numa madrugada de outubro de 1971, entrou em estúdio acompanhado apenas do engenheiro de som John Wood para gravar aquele que seria seu terceiro e derradeiro disco. Em cerca de duas horas onze canções foram finalizadas, sem overdubs e quase sempre no segundo ou terceiro take.

Com exatos vinte e oito minutos de duração, Pink Moon repetiu a pouca vendagem dos álbuns anteriores, mas chegou a receber uma atenção maior da crítica. Nas onze faixas, Drake destila toda a sua frustração em relação ao seu não-reconhecimento e a sua frágil condição de saúde. A simplicidade dos arranjos, mais intimistas do que nunca, somente com Drake ao violão e sobrepondo um piano na faixa-título, dá um certo tom lúgubre ao álbum.

Poeticamente, Drake encontra seu momento de maior maturidade. A poesia de influência beat dos discos anteriores adquire um caráter mais redentor e "iluminado", ainda que carregada na dose de amargura, como em "Place to Be" ("I was strong, strong in the sun/(...)Now I'm weaker than the palest blue/Oh, so weak in its need for you"). Em algumas faixas nota-se também um certo caráter enigmático, como se Drake estivesse cantando para si mesmo, aludindo a situações conhecidas e vividas somente por ele.

"Parasite" é uma espécie de conto autodepreciativo sobre um sujeito errante, enquanto a faixa-título parece conter uma mensagem cifrada ("Pink Moon is on its way/ None of you stand so tall/ Pink Moon gonna get you all"). Ainda há espaço para um discreto otimismo na perspectiva do recomeço ("Road", "Harvest Breed"), um rápido levante de auto-estima ("Free Ride"), e reminiscências da infância ("From the Morning"). Despido dos arranjos exagerados de Five Leaves Left e da elegância jazzy de Bryter Later, Nick pôde cometer seu trabalho mais pessoal, assinando um atestado de genialidade com sangue e vísceras.

Mais uma vez desapontado pela fraca repercussão de seu trabalho e cada vez mais debilitado, o cantor decide retornar à casa dos pais. Em 1974, volta a contatar John Wood e o produtor Joe Boyd (com quem trabalhara em seus dois primeiros discos) para um possível quarto álbum. No entanto, durante uma única sessão de estúdio em fevereiro daquele ano, mostrou-se tão fragilizado a ponto de mal conseguir cantar e tocar violão ao mesmo tempo.

Em novembro, Nick Drake seria encontrado morto em seu quarto. A autópsia revelou uma grande quantidade de antidepressivos no organismo do cantor, o que levanta até hoje a hipótese de suicídio.

Baixe Pink Moon aqui.

14.5.08

Da série "Bizarrices que tenho ouvido obssessivamente nos últimos dias":

[[[Mogwai]]]



Resumindo, são cinco escoceses malucos tarados por cinema, ficção científica e pelos Stooges - ainda que o som passe bem longe. Já têm cinco álbuns e um punhado de EPs no currículo, cheios de canções longas, quase sempre instrumentais, pontilhadas por períodos de melancólica calmaria - inclua aí fraseados de guitarra de fazer o capeta encolher o rabo entre as pernas - e paredes ruidosas de feedback estilo "fique surdo ou morra tentando". Algo como o ponto perdido entre Velvet Underground, Pink Floyd (antes da fase punheta Waters) e o Black Sabbath dos idos de 73. Há quem diga que isso é o tal do pós-rock, mas garanto que esse bicho não me mordeu.

Para os intrépidos aventureiros que quiserem conhecer mais a fundo (sem trocadilho) o som dos caras recomendo a audição imediata do sensacional Rock Action [01], talvez o mais acessível aos neófitos. Depois de ouvir e gostar, pode mergulhar de cabeça em Young Team [97] e Come On Die Young [99]. E no que mais você encontrar deles pela frente e assim sucessivamente, até que seu juízo exploda.

Eis uma pequena amostra que une uma música muito massa a um vídeo bem assombroso, apesar de tosco (não veja antes da hora de ir dormir).

[[Mogwai - "Stanley Kubrick"]]




Para baixar os discos, procure o tópico referente a banda na comunidade do (site de relacionamentos) orkut Discografias. Lá tem tudo e mais um pouco.

11.5.08

Spanish guitar

Subitamente, percebi que gosto bastante dessa banda. Eis dois bons exemplos do porquê.

[[Yo La Tengo - Sugarcube]]



[[Yo La Tengo - Tom Courtenay]]




Prometo voltar a esse assunto tão bombástico assim que a ressaca do Dia das Mães passar.

8.5.08

Tamo aí mandando brasa

Já está a solta no ar rarefeito a edição nova da Revista Wave, como sempre, recheada de bons textos.

Entre as pepitas do semanário cultural comandando pelo chapa Daniel Faria, há resenhas sobre o álbum novo de Ney Matogrosso; resenhas sobre a nova edição de Nascido Para Matar (crássico tardio de Stanley Kubrick) e um perfil da atriz carioca Vanja Orija.

Mas bacanudo e contundente mesmo está o artigo do próprio boss Faria que, recém-saído de uma maratona de três exibições semanais de Terra em Transe (!) traça um ácido panorama sobre os rumos atuais da produção cultural do país; e a reportagem especial que faz um paralelo entre Rio, 40 graus (filme de 1955, dirigido por Nelson Pereira dos Santos), e o cinema moderno.

Escondido no canto da festa, há um texto meu sobre o escritor americano Kurt Vonnegut e seu Café-da-manhã dos Campeões. O artigo, escrito em fins do ano passado foi resgatado de uma improvável gaveta de uma repartição pública pelo cada vez mais intrépido Tiago "Ossada" Lopes (valeu, bicho!).

Enfim, acessem aqui.

6.5.08

Take it easy my brother Gil


Na última quinta-feira (1º de maio), o ministro da Cultura, Gilberto Gil, anunciou que vai encaminhar ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) pedido de instauração de processo de reconhecimento do uso do chá ayahuasca em rituais religiosos como patrimônio imaterial da cultura brasileira. O chá é feito a partir do cipó de mariri e das folhas de chacrona. As substâncias psicoativas das duas plantas podem produzir alucinações no usuário.

O anúncio foi feito durante cerimônia realizada no Centro de Iluminação Cristã Luz Universal, também chamado de Alto Santo, em Rio Branco (AC). O ministro recebeu a solicitação em documento assinado por representantes dos três troncos fundadores das doutrinas ayahuasqueiras, e endossado pelo governador do Acre Binho Marques (PT), pelo deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), presidente da Assembléia Legislativa, além da deputada federal Perpétua Almeida (PC do B), articuladora do projeto de reconhecimento do uso ritual da ayahuasca.

Apesar das propriedades alucinógenas, o uso do chá é permitido no Brasil para ritos religiosos. O uso causa, segundo estudos científicos, alucinações, hipertensão, taquicardia, náuseas, vômitos e diarréia. A palavra ayahuasca tem origem indígena e é traduzida para o português de duas formas: “corda dos mortos” ou “vinho dos mortos”.

Gil destacou que as religiões que utilizam o chá Ayahuasca (também conhecido como Vegetal ou Hoasca) são traços importantes da cultura brasileira, na aproximação dos homens com Deus. “Espero que nós possamos celebrar em breve o registro do ayahuasca como patrimônio cultural da nação brasileira”, disse o ministro. “Neste caso, específico, acrescenta-se o afeto em relação a outra dimensão importantísssima para a vida, que é a Natureza.”, completou.

O ministro foi convidado para participar do II Congresso Internacional do Hoasca, nos dias 9, 10 e 11 de maio, em Brasília, onde pesquisadores, juristas, acadêmicos e membros dos três trocos fundadores das doutrinas ayahusqueiras (Alto Santo, União do Vegetal e Barquinha) vão debater os últimos estudos realizados com o chá. Gilberto Gil disse que o Iphan vai examinar “com todo zelo, carinho e responsabilidade” a solicitação.

A programação do II Congresso Internacional da Hoasca, evento promovido pela religião União do Vegetal (UDV), encontra-se no site, onde também podem ser feitas inscrições.

*Fonte: Cultura e Mercado

** Em memória de Allen Ginsberg [[1926-1997]] (foto feia acima), que curtia essa lombra e quando tinha vontade escrevia bons poemas.

4.5.08

Não fuja da raia


Para você não passar o domingo aos cuidados do Faustão, nem começar a semana apodrecendo no orkut, eis uma pequena bula de indicações pinçadas de andanças recentes pela internet:

[[Blog]]: Brazilian Nuggets
O já conhecido blog Brazilian Nuggets continua a ser a melhor fonte de raridades perdidas do pop brasileiro. Veja você que na última atualização os caras tiveram o disparate de postar um disco de Damião Experiênça! Descendo um pouco a barra de rolagem dá pra achar umas bizarrices bem interessantes, como uma gravação de um show dos pernambucanos do Ave Sangria nos idos de 74 ou o disco de estréia do lendário trio de rock pauleira O Terço. Além dos discos disponíveis para download "de grátis", também traz bons textos que são verdadeiros verbetes de enciclopédia sobre as pepitas em questão. Curta essa lombra.

[[Site]]: Revista Wave
Revista eletrônica capitaneada pelo careta gente boa Daniel Faria, traz um punhado de textos interessantes sobre música, cinema, literatura, além de boas reportagens sobre esse Brasilzão sucateado de meu Deus. Na edição mais recente tem um texto supimpa do inominável Tiago Lopes sobre o escritor Cormac McCarthy, o homem que deu um Oscar aos irmãos Coen. Afunde-se na lingerie.

[[Site cabeçudo]]: Rascunho
Versão on-line do famoso jornal de literatura editado em Curitiba. Longas entrevistas, resenhas abalizadas dos últimos lançamentos e um monte de coisas a mais. Embora carregue um pouco pro lado acadêmico em alguns textos, vale (e muito) a visita. Tire a sua piteira da gaveta e se refestele.

[[Vídeo]]: Hurtmold - Sabo
Clipe novo (ou seria o primeiro?) do sexteto paulista, tirado do último e sensacional álbum dos caras, lançado no ano passado.

1.5.08

...E o mundo segue cada vez mais careta

Continua a contagem de corpos 2008. Morreu na última terça-feira (29), na Suíça, aos 102 anos, Albert Hoffman o homem que criou o LSD. A causa da morte foi um ataque cardíaco.

Hoffman sintetizou o composto do ácido lisérgico diletamina pela primeira vez em 1938, mas só descobriu o barato da coisa cinco anos depois, quando acidentalmente sua pele absorveu um pouco da substância.

Inicialmente, o químico queria utilizar a droga para tratamento de pacientes mentais. E, de certa forma, foi mais ou menos isso que rolou. O LSD acabou se tornando a droga símbolo da contracultura dos anos 60 e até hoje faz a cabeça de muita gente.

Entre os notáveis que se fartaram da balinha, contam figuras do quilate de Arnaldo Baptista, Ken Kesey, Syd Barret, Júpiter Maçã, Timothy Leary, Lanny Gordin, Robert Crumb e - adivinha? - os Beatles.

Entre as histórias folclóricas em torno de usuários da droga, destaca-se o conto do vigário de Lemmy Kilmster, do Motorhead, que antes de cunhar clássicos do cancioneiro viril como "Ace of Spades" e "Orgasmatron" foi roadie de Jimi Hendrix. Ficaria uma beleza no currículo, se o verrugoso não tivesse todas as suas memórias do período borradas devido à quantidade industrial de ácido que ingeriu nos anos 60.

[[Turn on, tune in, drop out]]

Claro que no meio desse balaio a quantidade de coisas criadas a partir do consumo de LSD é imensa. E coisas boas, entre elas. Para não torrar sua paciência e, ao mesmo tempo, arrumar uma desculpa pra fazer uma listinha esperta, me limito a compilar cinco músicas que devem - e muito - aos experimentos do dr. Hoffman.

[[5 Canções lisérgicas]]:

["She Said She Said" - Beatles]
Embora a canção dos Fab Four mais associada ao ácido seja "Lucy in The Sky With Diamonds", foi nessa faixa do clássico Revolver (66) que John Lennon descreveu com precisão uma bad trip na companhia suspeita do ator Peter Fonda (estrela do épico da chapação Easy Rider - Sem Destino).

["Lindo Sonho Delirante" - Fábio]
Composta em parceria com Carlos Imperial e gravada com acompanhamento dos Fevers, essa faixa da porção argentina da Jovem Guarda possui título auto-explicativo.

["Astronomy Domine" - Pink Floyd]
Qualquer canção com o dedo de Syd Barret entra sem bater em qualquer lista que relacione LSD e música. Essa, que abre The Piper at the Gates of Dawn (68), disco de estréia do Floyd, foi escolhida porque é simplesmente muito massa.

["Pictures and Paitings" - Júpiter Maçã]
Romantismo lisérgico, com o flamboyant dos pampas que só quer dividir o micro-ponto com uma garota de cabelo curto e grudado na testa. Ou seria longo e grudado na bunda? Do clássico A Sétima Efeverscência (96).

["LSD" - Arnaldo Baptista]
"Louvado Seja Deus que nos deu o rock'n roll" diz o mais pirado dos irmãos Baptista crente que ia passar por careta depois de velho, na faixa tirada de Let It Bed (04).

Boa viagem.