29.4.08

Massacre Mutante


Depois de voltar, acabar e voltar de novo, Os Mutantes (ou o que restou deles) soltaram para download gratuito o primeiro single do novo álbum do grupo, o primeiro de composições inéditas em trinta anos.

A faixa nova chama-se "Mutantes Depois" e conta com algumas participações especiais meio perigosas. Entre a patota que preenche os espaços vazios de Arnaldo Baptista e Zélia Duncan (e Rita Lee, convenhamos) no estúdio estão o maldito hippie sujo Devendra Banhart e o highlander Tom Zé. Na cabeça de Sérgio Dias, guitarrista e dono da brincadeira, a música é uma homenagem aos fãs da banda, "os reais mutantes de cuja energia somos feitos, como uma pessoa só". Sei.

Atualmente, além de Sérgio Dias, o único remanscente da formação áurea é o baterista Dinho (o senhor de gravata transada, na foto acima). O restante da formação da banda pode variar até o término desta frase.

Se você tem estômago forte e não se intimida pelo desconhecido, pode baixar a música nova "de grátis" no portal IgMúsica. Clica aqui e vai com Deus.



[[Enquanto isso, numa dimensão paralela...]]

Enquanto o irmão brinca de Dr. Frankenstein com sua banda, Arnaldo Baptista ataca novamente. E como escritor!

O homem lançou no último dia 26 de abril seu romance de estréia, Rebelde Entre os Rebeldes. O livro, editado pela editora Rocco é uma ficção científica mutcho loca, como só a mente do autor de Lóki? poderia conceber. Sinta o drama num trecho do release postado no site oficial de Arnaldo:

"Ao saborear aos páginas do livro, têm-se a sensação de um gosto psicodélico de onde há mistura de cosmo, música, espiritismo, ciência, moto, nave espacial, telepatia, entre outros elementos que desaguam em uma história reveladora de uma preocupação com o bem estar do planeta Terra".

Sem comentários.

A capa, que vocês conferem aí ao lado, também é de autoria do músico que faz tempo envereda pelo campo das artes plásticas. No site oficial tem um trecho do romance disponível para leitura e uma entrevista sobre o livro. Confira aqui.

27.4.08

Questões músico-etnológicas

[[Nossa história até o momento
OU
Por isso eu acredito
nos riffs! ]]


Uma divagação pouco abalizada, mas otimista dos rumos recentes da música independente brasileira,

por Alexis Peixoto.



Em fins da década de 90, quando não ter uma gravadora e tocar em botecos (ainda) não era uma opção por boa parte das bandas de rock que surgiam no país, um disco com oito faixas toscas porcamente gravadas e executadas chamou a atenção de críticos e fãs mais antenados. Corria o bizarro ano de 2000 e os gaúchos da Walverdes soltavam seu álbum de estréia, o esporrento 90º, lançado pelo então iniciante selo Monstro Discos.

A perplexidade diante da bolachinha não tinha nada a ver com invencionices sonoras ou tentativas de reinventar a roda, que parecem ditar a moda dos tempos atuais. Em termos de criatividade, o som da banda não ia muito além de algumas influências óbvias para o ouvinte esclarecido que prestava atenção no que dizia o Reverendo Massari e, portanto, sabia muito bem quem Kurt Cobain e Mark Arm eram.

Se não surpreendia pela proposta, o (na época) quarteto gaúcho se concentra em outro elemento bem mais importante: personalidade. Cantando em alto e bom português, os Walverdes assinalavam sem querer o marco zero do que hoje convém chamar de “nova leva do cenário independente”. Ou algo do tipo. De toda forma, foi naquelas oito faixas que pela primeira vez uma banda conseguiu provar que, em plena rota de colisão com a linha do Equador, não havia motivo para se pautar única e exclusivamente pelas filiais européias, como ditava a cartilha das bandas independentes dos anos 90.

De forma sutil, uma nova estética que já se insinuava em algum lugar começou a dar as caras a partir dali. De repente, começou a ficar óbvio para um monte de gente o quanto Stooges casava bem com Titãs e que Neil Young e Roberto Carlos tinham tudo a ver. Isto é: ninguém precisava mais emular a fábrica de miados de gatos dos irmãos Reid, nem cantar com um ovo na boca feito Ian Curtis para fazer rock de forma decente no Brasil. A partir daí, geniais esquisitices como Motormama, Autoramas e Júpiter Maçã tornaram-se mais necessárias do que nunca.

Houve quem embarcasse na onda seguindo a risca os modelos gringos, claro. Mas descontando raras exceções, poucos se criaram e quase nenhum deixou filhotes para espalhar a doença adiante. Charlton Heston finalmente havia devolvido o controle do Planeta dos Macacos aos humanos primitivos. E pior: via internet, que logo se tornou o canal perfeito para uma revolução não planejada.

E como é de praxe na música pop, todo – vamos lá – levante de novas propostas sonoras, acaba puxando uma série de outras questões, de ordem mercadológicas e comportamentais principalmente. Oito anos depois, a Monstro Discos virou uma espécie de major do underground e o rótulo “independente” já goza do status de “vanguarda da música brasileira”, mesmo passando atualmente por um tratamento de desintoxicação após um período de intensa exploração por parte da MTV.

Fragilizado, mas longe de estar moribundo, o cenário independente sobrevive na certeza de que algo de novo surgirá no front, o que não deve demorar. Em 2006, um outro quarteto de gaúchos fechou o ciclo iniciado pelos Walverdes no início da década. A bicudos de All Star azul, os Superguidis abriram a porteira para a terceira geração de bandas independentes brasileiras, com seu disco homônimo e de capa amarela.

Como dizia o finado Chico Ciência, o futuro é daqui a pouco. Opa, peraí: chegou.

p.s.: O selo paulista Open Field relançou 90º dia desses, em edição especial comemorativa aos 15 anos da banda. Clica aqui e encomenda o teu.

23.4.08

Soltaram!

Demorou, mas finalmente saiu. Já está no ar a cobertura - ainda que tardia - do Disruptores sobre as duas primeiras noites do Abril Pro Rock 2008, feita por mim e pelo nosso não muito querido editor, Alexandre Honório.

Os shows rolaram entre dias 11 e 12 de abril, no Chevrolett Hall, em Olinda. Além de bons nomes nacionais como Autoramas, Superguidis, Pata de Elefante e Júpiter Maçã também deram as caras gringos sem-noção como os americanos do Bad Brains e New York Dolls e os neo-zelandeses do Datsuns.

Dia 27 o festival continua com sua noite dedicada ao metal||m|, com os alemães do Helloween e Gamma Ray. Desnecessário dizer que nós NÃO vamos cobrir isso.

[[E não percam! ]] Ainda esta semana, o Disruptores tira do baú uma entrevista assaz bombástica com Anderson Foca, chefão do selo DoSol e capitão do festival de mesmo nome, na qual o homem fala de suas recente celeuma com a organização do MADA, entre outras pepitas.

Acessem!

22.4.08

Mais notícias coladas de outros cantos

[[61ª Edição do Festival de Cannes homenageia David Lynch]]


A 61ª edição da mostra internacional de cinema de Cannes já tem data definida. O festival rola entre os dias 14 e 25 de maio. A seleção oficial deve ser divulgada na próxima quarta-feira (23), também conhecido como amanhã contando da data deste post.


O homenageado deste ano é ninguém menos que David Lynch, o homem de cuja mente genialmente doentia saiu pérolas do cinema recente como Inland Empire (2006), Cidade dos Sonhos (2001) e Veludo Azul, além da série Twin Peaks, considerada por muitos como a melhor de todos os tempos (e é algo bem próximo a isso mesmo).


Sabe-se lá como vai ser essa homenagem, mas já dá pra perceber um clima lynchiano no cartaz oficial do festival de Cannes. Quem for depois me conta como é que foi.


P.S.: Ainda esta semana, voltamos com nossa programação normal. Força na peruca.

9.4.08

Todos os discos são chatos & furados

[[Informe Canalha:]] Fiz a matéria abaixo pra sair no dia 29 de março, na edição de estréia do Na Semana, versão impressa do portal Nominuto, onde labuto diariamente. E saiu - só que faltando duas retrancas. Com esse corte sumário, foram limados os depoimentos do local hero Marcelo Morais e do homem-coleção Jorge Galvão que, na modesta opinião do autor, faziam grande diferença para a compreensão do texto. Sem a devida permissão da editoria, publico aqui a íntegra da matéria, com as fotos do (Mano) Vlademir Alexandre.

Curtam essa lombra.

A última canção

Diante da crise da indústria fonográfica, comerciantes e colecionadores de discos são forçados a migrar para a internet.

Abundantes em outras épocas, as lojas especializadas em discos e artigos de música são um tipo de estabelecimento cada vez mais raro nas ruas de Natal. Praticamente inexistentes nos dias atuais, o comércio de CDs originais acabou ficando restrito às seções específicas de lojas de departamento, que tratam o produto como mais um dentre os vários que oferecem aos clientes. Sem a renovação do estoque com novidades e atrativos especiais para os colecionadores, a imagem da loja exclusivamente dedicada ao comércio de discos vai ficando cada vez distante na memória do natalense.

O desaparecimento das tradicionais lojas de discos é fruto direto da atual crise vivida pela indústria fonográfica, que tenta em vão conter os danos causados pela pirataria e pelas trocas gratuitas de arquivos musicais pela internet. De acordo com o último levantamento realizado pela Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), a venda de CDs originais apresentou uma queda de 28,7% entre 2005 e 2006, o que implica numa redução de aproximadamente R$ 160 milhões nos valores arrecadados pela indústria.

O consumo de música pela internet, por outro lado, vem aumentando a cada ano. Seja por meio de vendas legais em sites especializados neste tipo de serviço, ou o download ilícito por meio de programas de compartilhamento de dados, os arquivos de mp3 encontram-se em todos os cantos da rede, a um clique de distância. Em 2006, a mesma pesquisa da ABPD estimava que o número de arquivos disponíveis para download ilegal chegava a 885 milhões em todo o mundo. Seguindo a tendência de anos anteriores, de lá pra cá este número pode ter dobrado. A disseminação dos arquivos na internet afeta até mesmo o comércio pirata, que não vê mais vantagem em vender o que praticamente qualquer pessoa conectada a internet pode obter de graça.

Embora não tenham os números e estatísticas da indústria na ponta da língua, os comerciantes de discos originais conhecem muito bem os seus efeitos. Ao ser informado que o assunto da matéria era as últimas lojas de discos da cidade, o proprietário de um estabelecimento localizado no calçadão da rua João Pessoa respondeu rapidamente: “Que lojas de discos? Isso não existe mais!”. Um dos estabelecimentos mais populares do centro da cidade há alguns anos, a loja teve seu espaço reduzido pela metade recentemente, dando lugar a um comércio de confecções. “Tive que alugar a metade do espaço, não tive alternativa. A pirataria acabou com tudo, ninguém liga mais pra CD original. Se está de graça na internet ou bem mais barato na rua, quem vai querer pagar mais pelo original?”, questiona o comerciante, que não quis se identificar. Além de CDs, as prateleiras da loja também exibiam um vasto acervo de discos de vinil, ao preço módico de R$ 1.

O desânimo é geral entre os proprietários das lojas, mas há aqueles que se esforçam para manter a cabeça erguida. Entre os poucos que ainda persistem no negócio, a solução principal adotada para minimizar o estrago da evasão de consumidores é selecionar o produto. Com 35 anos de experiência na praça, Marcínio Dias Oliveira (à direita) se esforça para oferecer em sua loja aquilo que os piratas e a internet não dispõem. As prateleiras da Disco Fitas, loja que mantêm na esquina da rua Princesa Isabel com a General Osório, no centro da cidade, não exibe CDs dos artistas do momento, que tocam o tempo todo na rádio ou na tevê. Mas se algum colecionador estiver em busca de raridades de Orlando Silva, Wanderley Cardoso, Bartô Galeno e do grupo Joelho de Porco, lá é o lugar certo.

“Aqui você vai achar de tudo, menos essas porcarias que a garotada baixa da internet”, diz, apontando para as prateleiras. “Tenho respeito pelo gosto dos meus clientes. A qualidade vem em primeiro lugar”.

Ciente de que o mercado não é mais o mesmo da época em que começou, o lojista diz que mantêm a loja por pura paixão pela música e também pela clientela fiel que conquistou ao longo dos anos. “Enquanto houver conservadores que gostem de discos originais e desprezem a internet e o produto mal-acabado dos camelôs, sempre existirão lojas de discos”, afirma.

Marcio José Costa, proprietário da Space Music, loja especializada em heavy metal localizada na Princesa Isabel, a poucos metros de distância da Disco Fitas, concorda, mas demonstra preocupação com a quase inexpressiva renovação do público.

“A clientela existe, mas quase não se renova. Os clientes mais jovens que tenho estão na faixa dos 28 aos 30 anos, pessoas que já têm renda estabelecida, família pra cuidar. A garotada mesmo prefere baixar da internet, não tem interesse em colecionar originais”, aponta.

[[Comércio virtual]]

Inicialmente funcionando como um sebo de venda e troca de discos usados, na avenida Hermes da Fonseca, a Velvet Discos encerrou atividades no fim do ano passado, após sete anos de existência. Apesar de ter aberto mão do espaço físico, o proprietário Marcelo Moraes não pensa em largar o comércio de discos. A solução adotada, por questões práticas, foi migrar para a internet.

A decisão foi o caminho natural a ser seguido uma vez que, segundo Moraes, as vendas on-line sempre superaram as da loja física. Atualmente, a loja colocou o acervo na página de comércio on-line Mercado Livre, mas planeja para breve a inauguração de um site próprio que trará CDs e outros produtos relacionados à música, além de um espaço destinado a textos sobre o assunto.

“Vou oferecer camisetas, ímãs de geladeira de bandas e outros produtos de memorabilia. No site também vai haver espaço para um blog musical, com artigos escritos por colaboradores selecionados”, avisa.

Mesmo reconhecendo que a crise da indústria fonográfica já se encontra num ponto irreversível, Marcelo Moraes tem uma outra teoria para o insucesso de estabelecimentos musicais em Natal. Na visão do empresário, o público local não tem o hábito de gastar com cultura.

“A crise está no mundo inteiro, mas se você for a cidades vizinhas de Natal, como Fortaleza e Salvador, ainda vai encontrar muitas lojas dentro de shoppings abastecidas com novidades e lançamentos atuais. Aqui, por mais que tenha gente que goste de música, poucos querem pagar por isso”, analisa. Questionado se o alto preço dos CDs originais não teria feito o público optar pelo produto mais barato, ainda que menos bem acabado oferecido pelos piratas, Marcelo não perde a vez. “Se a indústria tivesse baixado os preços quando a pirataria começou a complicar, talvez a crise não tivesse agravado tanto, mas hoje não tem mais jeito”, conclui.

[[Paixão de colecionador]]

O procurador-geral do Estado, Jorge Galvão, é um dos muitos colecionadores apaixonados por discos que se dizem órfãos das lojas do gênero na cidade. Dono de um acervo pessoal de aproximadamente cinco mil CDs e mais um lote imensurável de LPs, o colecionador continua comprando discos originais e se recusa a aderir ao mp3.

A paixão pela música começou ainda na pré-adolescência, quando gastava as economias na loja MusiSom, onde garimpava as últimas novidades das bandas inglesas e americanas da época. Nos anos 90, quando o velho “bolachão” de vinil cedeu lugar ao CD, Jorge Galvão precisou adaptar a coleção aos novos tempos. Na busca pela renovação do acervo em formato digital, o advogado contou com o suporte de lojas como a Aky Disco, BiMusic e Planet Rock. Embora a última destas lojas tenha encerrado atividades há pelo menos sete anos, o colecionador ainda se lembra de muitos discos que adquiriu em cada uma delas e até dos vendedores que costumavam atendê-lo.

“Antes de qualquer coisa, as lojas eram um ponto de encontro, um lugar de conversa. Muitas vezes eu ia até lá e nem comprava nada, mas passava a tarde conversando com pessoas que, como eu, também eram colecionadores interessados em música”, lembra.

Após o desaparecimento de suas lojas favoritas, Galvão teve que se render de vez às compras on-line para continuar alimentando a coleção. Nos sites de grandes magazines, como Submarino e Lojas Americanas, ou em livrarias, como Saraiva e FNAC, o colecionador pinça as jóias que mês a mês continuam a compor seu acervo.

Detrator ferrenho do hábito de baixar discos na internet ao invés de comprá-los, Galvão é enfático quando o assunto surge na conversa: “Não baixo nada da internet, nem mesmo os artistas que não conheço. Se quero conhecer o trabalho de um artista novo, acredito na minha intuição e compro o disco. E, em geral, acerto”, afirma.

Como toda boa coleção, a de Jorge Galvão tem particularidades. A ópera-rock Tommy, do grupo inglês The Who, aparece cinco vezes nas prateleiras.

“Tenho a versão de estúdio, uma ao vivo, a trilha sonora do filme, a versão da peça da Broadway, e uma tocada por uma orquestra sinfônica. E até hoje quando ouço me emociono e me pego tocando guitarra no ar”, revela. Coisas de colecionador.