29.9.08

Novo volume da Bootleg Series no forno

Chega as lojas no próximo dia 07 de outubro Tell Tale Signs, novo volume da Bootleg Series de Bob Dylan. Esse é o oitavo disco da série, que registra sobras de estúdio e shows raros do homem. Dessa vez, o foco vai ser no período da década de 80 e 90, época do lançamento de discos como Oh Mercy (1989), World Gone Wrong (93) e Time Out of Mind (97). E melhor: a bolacha é dupla e traz nada menos que 27 faixas.

Antes da versão física chegar às lojas, a Radio Pública Nacional dos Estados Unidos (NPR) vai disponibilizar o disco na íntegra, a partir da madrugada dessa quarta-feira em streaming. Ou seja, nada de baixar: o lance é escutar pelo site da emissora.

Enquanto isso, o site oficial de Dylan já soltou a faixa “Dreamin of You” para download gratuito. Segundo a página, o repertório do disco ainda conta com as contribuições do cantor para as trilhas dos filmes Lucky You, Gods & Generals e North Country além de “32-20 Blues”, primeiro registro oficial de uma cover de Robert Johnson feita por Dylan.

O último volume da Bootleg Series, também duplo, foi lançado em 2005, como a trilha sonora do obrigatório No Direction Home, dirigido por Martin Scorsese.

Os volumes anteriores traziam registros de shows históricos como os da Rolling Thunder Revue, na década de 70, e o famoso “Royal Albert Hall Concert”, com direito a grito de “Judas!” da platéia, no auge da turnê híbrida com os canadenses do The Hawks.

Verdade seja dita que a produção do período apresentado em Tell Tale Signs passa longe da pujança dos velhos tempos. No entanto, o novo disco deve servir para fazer justiça a álbuns como Love and Theft (2001) e o já citado Time Out of Mind (97), hoje em dia deixados de lado ou subestimados pela crítica e por alguns fãs neófitos e/ou saudosistas, apesar das bolachas terem faturado um purrilhão de Grammys e outros prêmios na época do lançamento.

Ok, hoje em dia até a banda de metal do seu primo tem boas chances de ganhar um Grammy. Mas o ponto é que o velho Bob já havia tomado os rumos e se recuperado de sua pavorosa fase cristã nos anos 80 bem antes do incensado - e nem por isso menos excelente - Modern Times (05). A história, espera-se, o absolverá.

Partiu, Ciclope!

24.9.08

Notícias do front

Enquanto o placar não muda do lado de cá, eis algumas novidades que vagueiam pela internet nesses dias nefastos. Nada de muito bombástico, calma. Só um punhado de links que talvez - digo, apenas talvez - possam lhe salvar de uma tarde de tédio ou de um expediente nulo.



1) Já está no ar, no insuspeito portal RockPress, a cobertura do Coquetel Molotov, feita pelo intrépido Tiago Lopes, nosso homem em Recife durante os dias 19 e 20 desse mês. Mesmo diante da choradeira hermânica de Mallu Magalhães no ombro de Marcelo Camelo e da nociva presença de duas bandas suecas, o velho bróder das quebradas não perdeu a pose e empreendeu uma chacina crítica catucante, porém sutil. Leia aqui.

2) Já caíram na rede os novos petardos de TV On The Radio (Dear Science) e Mogwai (The Hawk Is Howling). Ambos renovaram a crença em música inteligente, instigante e de boa qualidade. Bem, ao menos lá em casa. Baixe Dear Science aqui e The Hawk... aqui.

3) E pra terminar fazendo propaganda de outro companheiro de copo, vale uma passada no blog de Hugo Morais. Dessa vez o careca sacou da prateleira nada menos do que 50 discos, todos a disposição pra baixar no blog do cidadão. Se for escolher um pra baixar, ouvir e morrer depois, vá direto em Cheque Girls, canto de cisne da saudosa banda punk-gay recifense Textículos de Mary. É ripa na chulipa.

4) Por último, mas não menos importante, um aviso de utilidade pública: aguardem o contra-ataque. Jornalismo musical gonzo de guerrilha é última moda nos Balcãs e não tarda a chegar por aqui.

18.9.08

Afinou

Van Morrison proíbe consumo de álcool em seus shows

Artista de 63 anos diz que se distrai quando alguém pede uma dose. Ele enfrentou problemas de alcoolismo quando era jovem.

Da EFE/G1

O veterano músico norte-irlandês Van Morrison surpreendeu seus fãs nesta quinta (18) ao anunciar que se apresentará apenas em locais onde não seja servida nenhuma gota de álcool.

O artista, de 63 anos, afirma que se distrai quando algum membro do público se aproxima do palco para pedir uma dose, o que, na sua opinião, também arruína a experiência musical do restante.

Segundo um porta-voz do cantor, nos shows do músico em Belfast só poderão ser servidas bebidas sem álcool.

O representante negou que o pedido de Morrison tenha qualquer relação com o fato de o músico ter passado por uma dura batalha contra o alcoolismo quando era jovem.

Famoso tanto por sua genialidade musical como por seu forte temperamento dentro e fora dos palcos, Morrison também protagonizou no passado polêmicas com o público por causa do uso de telefones celulares.

O músico está em turnê para promover seu novo álbum, "Keep it simple" (2008), trabalho no qual homenageia o jazz, o blues, o soul, o gospel e a música celta e country.

***

[[Comentário canalha]]: Anos e anos levantando copos fizeram "Van the man" pedir penico. Apesar do surto de caretice, qualquer disco do homem vai muito bem com um goró.

9.9.08

Gaba Gabba Hey revisited

Deu no New York Times. Digo, no Portal DoSol. O selo de mesmo nome, capitaneado por Anderson Foca, prepara para breve uma homenagem aos Ramones, banda favorita de onze entre dez roqueiros sul-americanos.



A saudação ao grupo de Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy virá na forma de um disco virtual, que reunirá bandas locais e nacionais tocando versões do quarteto nova-iorquino. Quem quiser participar é só mandar e-mail para assessoria@dosol.com.br dizendo quem diabos você e com a música que sua banda quer tocar. Depois, o negócio é torcer pra agradar a curadoria do selo, que vai pré-aprovar todas as faixas submetidas para botar ordem no galinheiro.

Depois de selecionadas, os áudios ficarão disponíveis para download gratuito no portal DoSol, junto com uma capa exclusiva que deverá ser feita por Gustavo, do Calistoga.

A idéia é boa e inspira curiosidade para o resultado final. Ao menos se espera que saia algo melhor do que We’re a Happy Family, tributo aos Ramones que traz versões quase sempre bizonhas de Red Hot Chilli Peppers, Marilyn Mason, Metallica e Green Day para clássicos como “Havana Affair”, “The KKK Took My Baby Away”, “Beat on the Brat”, entre outros.

A exceção a regra é a matadora versão de “Return of Jackie and Judy”, pinçada de End of a Century e reinventada pelo malaco Tom Waits. Antes, os Ramones já haviam feito gentileza de gravar “I Don’t Wanna Grow Up”, em Adios Amigos!, derradeiro registro de estúdio da banda.

A música – e o clipe, dirigido pelo quadrinista Daniel Clowes – ficou famoso nas manhãs e tardes de ócio da MTV. Para quem não conhece eis a linda versão original.


7.9.08

Depois da corrida do ouro (cafonismo singelo)


"Deus, me dê a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que posso, e a sabedoria para saber a diferença".
Oração da Serenidade, transcrita em latim na contra-capa de Re-ac-tor, álbum de
Neil Young & Crazy Horse (1981)
Foto: Neil Young, ainda furando tímpanos do alto de seus 62 anos, em Florença, Itália, em maio de 2008, por Andrea Barsanti

5.9.08

O Hermano está só. Ainda bem.

Há pouco mais de um ano, quando os cariocas do Los Hermanos anunciaram que iriam entrar em hiato “por tempo indeterminado”, o mundo de milhões de seres dos cursos da área humana das universidades federais de todo o país veio abaixo. Instantaneamente convertidos em viúvas, os fãs da banda penduravam as sandálias de couro e coçavam as barbas pensativos, intrigados com uma questão que martelava suas (oh!) drummonianas mentes: E agora, José?



De fato, a luz apagou, a festa acabou, etc. Depois do divórcio, cada um dos quatro hermanos seguiu caminhos tão diferentes quanto assustadores. Entre bandas de hardcore, colunas no G1, tati-bitátis com ex-hypes novaiorquinos e novos e mais sebosos hippies, Marcelo Camelo findou saindo na frente. Logo ele, o discípulo mais fiel de Caê, de Chico e de Caymmi, o amigo da filha da Elis. Ele, o mais potencialmente chato, a quem coube toda a culpa de, com suas morenas e metáforas marítimas, ter estragado 4, disco que poderia ter passado para a crônica musical brasileira como canto de cisne definitivo de sua ex-banda. Ele, que uma vez tentou alfinetar o mainstream, mas levou porrada de Chorão e acabou no acústico de Sandy & Júnior.

Pois bem. É hora de aceitar os fatos. Sou, aguardado disco de estréia de Camelo, traz um dos melhores conjuntos de canções ouvidos esse ano.

Longe das limitações impostas por uma banda convencional de rock, o cantor se esbalda na lingerie, seguramente secundado pelos paulistas de vanguarda do Hurtmold. Na prática, isso se reflete em arranjos mais delicados e elegantes, ás vezes um tanto imprevisíveis, calcados não em um naipe de metais capenga ou em tecladeiras de churrascaria, mas sim em texturas melódicas criadas pelo esforço contínuo de uma banda preocupada somente em fazer a cama pra o que o cantor tem a dizer – e sem soar apagada ou deixar de emprestar um boa dose de identidade, frise-se.

Nessa quesito, aliás, Camelo não vai muito longe da matriz. Se ele aparece mais simpático na carnavalesca “Copacabana” (dos versos “O bairro do Peixoto é um barato/ E os velhinhos são bons de papo”), não tarda pra o cidadão tascar um “Solidão, foge que eu te encontro” algumas faixas adiante. O que, no fim das contas nem é necessariamente ruim. Eis aí Marcelo Camelo do jeito que sempre quis ser, mas nunca conseguiu enquanto frontman de uma banda que crescia em popularidade com proporções religiosas. E ora, rock mesmo ele nunca soube fazer – “Cara Estranho”, “Tão Sozinho” e o primeiro disco dos Hermanos estão aí pra não me deixar mentir. Sou (ou Nós, dependendo de como se lê na capa) no fundo é uma afirmação de identidade que, por acaso, vem a ser um grande disco.


P.S.: O lançamento oficial de Sou é no dia 08 de setembro (segunda-feira que vem, aliás), mas dez das catorze faixas já estão a solta na internet desde a semana passada, em trocentos links. Por exemplo, aqui.
P.P.S.:. Chupa essa, Daniel!

1.9.08

Fleet Foxes: O folk errou

E, para surpresa geral da nação, o folk virou tendência de mercado. O estilo, com suas cantoras mirins e poetas ambíguos, costuma aparecer nos tempos modernos atrelado a insuspeitos prefixos. Dependendo do gosto do freguês pode ser neo, indie, freak ou o que mais os críticos tiverem coragem de inventar. Tudo bobagem, diga-se. O álbum de estréia dos americanos do Fleet Foxes, apresenta o folk como nunca deveria ter deixado de ser considerado. A saber, boa música pura e simplesmente.


Oriundos de Seattle, o quinteto barbado abre mão das lições melódicas do rock alternativo (cartilha de nomes como Bright Eyes e Elliott Smith) e honra os velhos ídolos do passado, porém sem a reverência obsessiva dos patrícios Vanguart e Mallu Magalhães, pra ficar em nomes mais conhecidos. Embora nenhum acorde das onze faixas do álbum soe remotamente inédito, há uma personalidade própria impressa em cada composição que não permite colocar essa banda na gôndola dos meros recicladores de caveiras musicais. Sim, aí está o fantasma do Buffalo Springfield, as barbas de Harry Nilsson e as vocalizações beach-boyanas, no limiar do cafona. Muito embora as identificações sonoras sejam evidentes, o ouvinte atento logo conclui que nada do que foi registrado no disco, auto-intitulado, poderia ter sido escrito por nenhum dos artistas previamente citados.

A sacada de mestre (vulgo talento) que diferencia o Fleet Foxes de seus companheiros revisicionistas é tão perigosa que chega a por em risco o futuro da banda, uma vez esquecido o burburinho inicial da estréia. Cara a cara com o fôlego criativo que o grupo apresenta logo de saída o ouvinte pessimista dificilmente põe fé na criatividade do grupo em longo prazo e já se arrisca a prever, com direito a sonoplastia de nuvens e trovoadas, a ladeira abaixo que deve se seguir nos próximos álbuns.

Ainda que no fim das contas o amigo urubuzento tenha razão e o Fleet Foxes nunca supere a sua obra (prima) de estréia, só por terem escrito uma canção como “White Winter Hymnal” já mereciam um lugar de destaque em qualquer hipotética lista de melhores do ano e/ou da década. Em pouco menos de dois minutos e meio o grupo é capaz de apresentar uma aula de harmonia entre arranjo e letra, com uma concisão poética que, sem risco de exageros, chega a lembrar os melhores versos do poeta americano Robert Frost.

Ironicamente saídos da terra do grunge e lançado pela Sub Pop, gravadora símbolo do estilo, o álbum é a antítese direta à sujeira que outrora chacoalhava os cabelos ensebados daquela cidade. Tampouco compactua com a necessidade de ser retrô que norteia boa parte das bandas adotadas pelo povão indie e pela crítica. Se a banda remete a bons sons do passado, o faz sem esforço e com naturalidade, deixando claro que não poderia existir de outra forma.

Candidato a cult, um anticlássico, um estranho no ninho. Pior: Fleet Foxes, o disco, é, indiscutivelmente, um saudável erro de percurso nos rumos do folk atual.

[[Bônus track:]] Vídeo - White Winter Hymnal