20.7.08

Da série "Grandes filmes ruins do cinema nacional"...

O amor nos tempos do blog

Nome Próprio, filme baseado na obra de Clarah Averbuck que estréia em Natal neste fim de semana, é tão superficial quanto a literatura da escritora gaúcha.

Por Alexis Peixoto

É velha a discussão sobre a validade e a qualidade das adaptações literárias para a tela grande do cinema. Na maioria dos casos, é comum os leitores da obra original reclamarem deste ou daquele aspecto do livro que o filme deixou de fora. No caso de Nome Próprio, filme dirigido por Murilo Salles, baseado na obra da escritora gaúcha Clarah Averbuck e estrelado por Leandra Leal, os fãs não têm do que reclamar. O filme, que estréia em Natal neste fim de semana, é uma transposição fiel dos escritos de Averbuck. O problema é que isso não é necessariamente uma vantagem.

Clarah Averbuck é um dos expoentes da geração de escritores a surgir a partir dos blogs e zines eletrônicos da internet. A partir das postagens em seu blog, logo atraiu uma legião de admiradores por meio de seus textos virulentos e curtos, nos quais expunha detalhes íntimos e dolorosos de seu cotidiano na cidade de São Paulo. O ibope alto logo atraiu a atenção de uma grande editora e em 2002 a Conrad publicou Máquina de Pinball, romance de estréia da escritora. É principalmente nesse livro que se baseia o roteiro de Nome Próprio.

Leandra Leal é Camila, uma jovem aspirante à escritora que deixa a aridez de Brasília e parte para São Paulo, onde espera encontrar o amor e a inspiração para escrever seu primeiro livro que, ela espera, impulsionará toda uma futura carreira literária. Na capital paulista, Camila se entope de drogas e pula de casa em casa, de namorado em namorado, de bar em bar, tendo como único companheiro e confidente seu blog onde publica diariamente suas angústias. E assim o filme se arrasta durante mais de duas horas, em planos de câmera apenas corretos e sem qualquer aprofundamento nos personagens que mais parecem objetos cenográficos do que pessoas de verdade, tamanha é a inexpressividade com que são retratados.

A falta de interesse é tanta que nem a protagonista escapa do problema: o filme não dá nenhuma pista do porque de Camila ser tão problemática, tampouco se preocupa em explicar o que afinal levou uma garota de vinte e poucos anos a largar tudo e partir para uma cidade grande e desconhecida para fazer literatura. O que o espectador pode concluir instintivamente após o terceiro namorado expulsá-la de casa, é que Camila é problemática por que sofre de uma enorme carência afetiva, que ela tenta curar chamando atenção das maneiras mais constrangedoras possíveis. Uma pena que o filme insista em querer romantizar esse tipo de comportamento desregrado, o que nem de longe contribuiu para que a platéia se identifique ou tenha o mínimo de sentimento de compaixão para com a personagem.

Mas em meio a tanto chilique o filme ainda traz, ainda que discretamente, uma discussão relevante. A obsessão quase infantil com que Camila se dedica ao seu blog passa por um retrato fiel do jovem no Brasil de hoje, que nutre uma relação de dependência doentia com a internet, evidenciada no fato de que 60% dos usuários da rede de relacionamentos do site Orkut são brasileiros. Eis aqui um tema que poderia ter algum destaque no roteiro, mas que infelizmente se perde fácil entre briguinhas de casal, cenas gratuitas de nudez pretensamente viscerais e referências forçadas a bandas de rock e escritores malditos, prontas para agradar aos descolados da primeira fila. Tudo muito fiel à escrita superficial e piegas de Clarah Averbuck, que alguns blogueiros mais antenados adoram taxar de gênio incompreendido. Pode até ser que o futuro os dê razão. Mas depois da saraivada de argumentos contra essa tese fornecidos por Nome Próprio, os defensores da gaúcha terão que suar se quiserem garantir o lugar de Averbuck no rol dos grandes nomes da literatura brasileira.

*Publicado na edição de 19/07/2008 do jornal Na Semana.

3 comentários:

Unknown disse...

"o horror, o horror" que tu botou aí abaixo cabe para Nome Próprio também. Ainda bem que foid e graça.

Fábio Farias disse...

resumindo: o filme é um monólogo chato da Leandra Leal

Mitch Souza disse...

Seria esse o futuro do cinema brasileiro?