20.1.08

O futuro é vórtex


Nostalgia nerd: Considerações rasteiras & leigas sobre uma época que não volta mais

OU

De como a vida ficou progressivamente menos divertida depois que eu saí da 8º série



A história já não é novidade alguma: o Radiohead, mais uma vez, enrabou a indústria fonográfica com a estratégia de marketing de seu último disco, In Rainbows. Disponibilizado para download no site oficial da banda, o preço da bolacha ficava a gosto do freguês que poderia, inclusive, não pagar nada pelos arquivos.

Pois bem. Enquanto a versão física (e cheia de fru-frus) de In Rainbows chega às lojas e Thom Yorke & sua mundiça morrem de rir com a rabiola cheia de grana, as lojas de discos vão caindo feito mosca e fechando as portas feito igreja em sábado de carnaval.

Em nível local, perdemos a Velvet Café & Música. Nas “Oropa”, a Tower Records, supostamente a maior loja de discos do mundo, pediu as contas dia desses. Mas, a bem da verdade, não estou interessado nessa polêmica sobre se as pessoas vão deixar de comprar discos ou não. Quem gosta e cultiva o hábito de abrir rombos na conta bancária com artigos relacionados a música manterá o vício firme e forte até o advento das quatro bestas aladas. Aqueles infiéis que sempre preferiram o caminho mais fácil dos programas P2P ou da banquinha de cds piratas, vão pro inferno de cabeça para baixo.



Esse nariz-de-cera todo é só pra tomar fôlego pra começar a falar daquele que é, em minha opinião, o último grande fenômeno da indústria cultural. Criado em 1999 pelo então adolescente espinhudo (e, creio eu, justiceiro tcha-tcha-tcha) Shawn Fanning, o Napster tem importância comportamental, cultural e mercadológica comparável ao surgimento do vídeocassete. Tal e qual a invenção do conceito de home vídeo (aka vídeo caseiro), o Napster popularizou uma nova forma de consumir uma mídia (os filmes no caso do vídeo, a música no caso do Napster); motivou a criação de uma nova forma de publicidade (vide os filmes que são produzidos diretos pra vídeo e as bandas que lançam discos direto no formato virtual); e, como se fosse pouco, ainda FORÇOU a criação de um bom punhado de ferramentas tecnológicas para suportar o novo formato (aparelhos de videocassete, dvds, i-pods, mp3 players e demais bugigangas).



Na altura do ano 2000, quando o programa ganhou mais popularidade, o mundo ainda tentava entender o que era o tal do mp3. A princípio, muita gente apontou o formato como o “substituto do CD”, sem sequer se preocupar com a qualidade sonora nitidamente inferior que os arquivos apresentavam (e apresentam até hoje) em relação à bolacha cromada. Mas, naquela época, o que os profetas apocalípticos esqueciam de notar era a dificuldade de conseguir os tais arquivos.

Para baixar um mp3 no final da década de 90, o usuário tinha que recorrer a sites como o mp3.com, que disponibilizavam faixas soltas de artistas populares. Notem bem, populares. Então, se tu tivesse procurando aquela música do Bryan Adams que rola na trilha de Robin Hood, era até relativamente fácil de achar. Agora, se a intenção fosse incrementar a tua máquina com um troço levemente mais obscuro (um Ramones, digamos), a coisa já ficava complicada. Outra que em muitos desses sites o download era pago e disponibilizar um disco inteiro, “de grátis” ou não, estava fora de questão.

Quando o Napster passou a operar, resolveu metade desses problemas e pavimentou a solução dos restantes. Ao permitir que malacos ao redor do mundo tivessem acesso à biblioteca de arquivos mp3 um dos outros, o programa não só facilitou o consumo do formato, como o popularizou de vez. E o melhor, tudo no 0800. Embora fosse um tanto trabalhoso catar faixa por faixa para completar um disco inteiro, à medida que o programa foi ficando mais conhecido e a rede crescendo, mais gente ia disponibilizando arquivos. Em pouco tempo, não era mais preciso pagar para ouvir um disco. Bastava ter uma conexão boa e um pouco de paciência para montar o quebra cabeça.



Aí foi o primeiro abalo significativo na indústria fonográfica. Embora hoje em dia seja uma coisa mais do que aceita e consumada, no início da década a idéia de que era possível conseguir qualquer música no mundo de graça pela internet era algo assustadora. Tão assustadora que quase chega a justificar ações que hoje parecem ridículas, como a do Metallica que, ao mover uma ação legal contra o programa, chegou ao cúmulo de apresentar uma lista com o nome de 345 mil indivíduos que teriam baixado músicas da banda na internet.



(A picuinha com o Metallica, aliás, rendeu momentos memoráveis. No VMA’s do ano 2000 foi apresentada uma esquete em que o baterista Lars Ulrich contracenava com Marlon Wayans, um dos apresentadores da festa naquele ano. Na esquete, Ulrich surpreendia Wayans baixando uma música do Metallica via Napster e exigia uma explicação. Daí, Wayans – todo encolhido de medo - respondia que usar o Napster não era nada mais do que “dividir e compartilhar” as coisas. Movido por essa resposta bunda, Ulrich chamava um roadie parrudão que começava a empacotar as coisas do quarto de Wayan, sob justificativa que estavam apenas... “dividindo e compartilhando”. O vídeo terminava com Ulrich, depois de deixar o quarto do mané do Wayans praticamente só com as paredes, pregando um adesivo do Napster na bunda da namorada do cara, enquanto saia pela porta com o braço em volta da cintura da garota, com um sorriso cafajeste na cara e o slogan: “Dividir só é legal quando não são as suas coisas”. Mais tarde, na mesma festa, o próprio Shawn Fanning apareceu para entregar um prêmio usando uma camiseta do Metallica. “Essa camiseta é emprestada de um amigo. Se eu gostar, compro uma pra mim”, disse na cara dura, enquanto a câmera da MTV mostrava Ulrich sentado na platéia, puto da cara).



A primeira prova de que o Napster poderia servir para ajudar uma grande banda foi justamente quando o Radiohead deu a primeira enrabada na indústria fonográfica. Em julho de 2000, as faixas de Kid A, o disco mais esperado daquele ano, apareceram no programa três meses antes do lançamento oficial. O detalhe é que o disco não tinha singles nem vídeos e era tão experimental que a promoção via rádio era inviável. Depois de ter sido baixado por quase um punhado de milhares de sujeitos indies, o disco atingiu o primeiro lugar de vendas da Billboard, feito inédito na carreira do Radiohead.



Daí pra frente, o resto já é história. O Napster cresceu tanto que implodiu. Em fevereiro de 2001, um levantamento dava conta de que 26,4 milhões de pessoas ao redor do mundo utilizavam o programa. Em julho do mesmo ano, o programa encerrou as atividades após ter sido declarado culpado da ação judicial movida pelo Recording Industry Association of America (RIAA). Em 2002, o programa foi comprado pela Roxio Inc. e transformado em um serviço pago. Uma bosta, diga-se.



O legado do “diabinho”, porém, ta aí. Seja nas atitudes do Radiohead, ou nos programas que o seguiram (e já faliram) como o AudioGalaxy, E-mule e demais, a bomba de nêutrons do Napster reverbera até hoje, quando você acessa o myspace de uma banda do Cazaquistão ou quando baixa um disco via rapidshare. O futuro parece menos assustador do que naquela época e talvez reserve um cataclismo cultural de proporções equivalentes ao que varreu as manchetes no começo da década. Ou... ??






















Continue clicando, chefe...

























































































Quase lá....
















































Ok. Amanhã vai rolar uma domingueira trash do caráleo aqui em Natal. The Honkers + Zefirina Bomba, no Shambala Pub, bar recém-aberto na orla de Ponta Negra e que eu ainda não conheco mas, na real, tem uma puta nome de botequinho fresco.
Enfim, se por alguma convergência geográfica você estiver na mesma cidade sem nada para fazer, o negócio começa às 18h e custa a bagatela de uns cinco pilas. Com sorte, conseguirei sobreviver (ao show e à ressaca) para escrever sobre por aqui.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu lembro que eu fui um dos "banidos" do Napster, pq tinha arquivos em mp3 do Metallica no meu pc. Um detalhe interessante é que eu não tinha baixado pelo Napster! Me bloquearam só porque estava na mesma pasta que ficavam todas as mp3s baixadas.

Mas o mundo gira e a lusitana roda: o Metallica virou uma porcaria de banda, Emule & Cia ainda são usados. E a industria fonografica corre atrás do "prejuizo" de qualquer jeito.

Excelente texto. Agora, Topo Didio foi uma sacada de mestre!

Hugo Morais disse...

Rapaz, nunca usei com veemência essas porras, durante um tempo tentei o Emule, não achava o que eu queria, e quando achava não baixava. Depois tentei o SoulSeek que diziam ser a última bolacha Bono do pacote, um lixo. Parei.

combustaoespontanea disse...

Quem deixou saudade mesmo foi o Audiogalaxy. Ali sim, o negócio era com "ph" de toddy. Lembro que baixei muita coisa ao vivo, lados b de compactos e outras raridades de medalhões e udigrudis. Tudo facil de achar porque eram listas em páginas html e com busca e tudo mais. Tipo os sites de bittorrent mas sem a frescura do tracker.

Ah, valeu pela visita no brog, Alexis!

http://combustaoespontanea.tk