1.2.08

Barulho bom é o do Nordeste


Cobrar autenticidade e coerência ideológica de uma banda de rock hoje em dia é esperar Dom João voltar da Argentina ou querer dar nó em pingo d’água. Na era do Deus-Google, onde a pose, o penteado e o número de visualizações no perfil são mais importantes do que um riff ou um bom refrão, o senso crítico vai pras cucuias, junto com a fé em um futuro longevo para a humanidade.

No que diz respeito às bandas que teimam em misturar “influências nordestinas” com róque, então, o negócio é mais grave. Quase beirando a hecatombe, eu diria, com resultados passíveis de excomunhão. O caso é que 90% das bandas que seguem essa – vá lá – estética não passam de um punhado de universitários bem alimentados que adoram expor suas “raízes” e bancar os esfomeados, alheios ao fato de que sempre estudaram em escola particular, moram em condomínios fechados e dirigem o carro do ano.

Triste fim. Antônio Conselheiro se revira na cova rasa.

Enquanto isso, os 10% restantes da estatística são preenchidos por uma única banda. Vinda da Paraíba, a Zefirina Bomba consegue unir os dois mundos de forma genialmente despretensiosa. I.e., ser uma banda de rock inegavelmente nordestina, sem – atenção – ser “do Nordeste”.

[[[This is hardcore]]]


Explica-se: “do Nordeste”, conotação assumidamente pejorativa, refere-se a todo aquele regionalismo forçado, que compõem os clichês e os estereótipos com os quais o pessoal lá de baixo identifica nós que estamos cá em cima; AO PASSO QUE, “nordestina” quer dizer tão somente algo que evidentemente vem do Nordeste e mantêm características suficientes para ser identificada como tal, mas nem por isso deixa de incluir outras linguagens.

Dito isso, chegamos a Noisecoregroovecocoenvenenado, disco de estréia da Zefirina Bomba. Eu sei, a bolacha saiu faz mais de ano, mas acontece que só agora eu pude finalmente botar as patas em cima para ouvir com mais cuidado. E lhes digo caros amigos: há tempos não ouvia um disco com tamanha obsessão como tenho ouvido o deles.

Em menos de meia hora, 15 faixas. Dessas, somente uma é dispensável – a enjoada “Oportunidade”, na qual se deixam cair nos clichês execrados acima e se metem a macaquear o diálogo de um bóia-fria com um “dotô”. Nada que um clique no botão >> do teu som não resolva.

Nas outras faixas, o côro come que se farta. Não mais do que três ou quatro acordes surrados num violão Del Vecchio distorcido são mais do que suficientes para lascar de banda letras que, salvo uma ou outra exceção, não precisam de mais de cinco versos para dar conta do recado.

É desse minimalismo urgente que a banda tira grande parte de sua força. Seja ampliando os ecos do Nirvana e dos anos grunge (“A-M-N”, “O Que Eu Não Fiz”), ou quando cai na porrada hardcore descerebrada (“Vá Se Foder”, “HC”) e ou na – veja só – surf music (“A Outra Trilha de Sumé”), a banda nunca perde a coerência, abrindo mão de firulas regionalistas.

Ok, você pergunta, e as tais características que identificam a banda com a região a qual pertence, cadê? Nas entrelinhas, filhinho, nas entrelinhas. Está tudo lá: na empostação vocal de Ilsom, que canta engolindo letras e emendando o fim de uma palavra no começo da outra (como se fala por aqui); nas construções melódicas que guardam tanta semelhança com o Mudhoney quanto com duelos de repentistas; nas letras, calcadas na oralidade e que abordam temas e termos facilmente identificados pelo ser URBANO que anda de bar em bar na orla de Cabedelo (ou Ponta Negra ou Iracema); e, vale citar mais uma vez, no timbre tosco e ardido da viola adulterada.

Tudo isso, vale lembrar, sob a batuta do rock garageiro, de power trio, gritado e tosco. Sem zabumbas por aqui.

Não me restam outros argumentos a não ser recomendar veementemente a audição desse disco. Compre, grave ou roube: Noisecoregroovecocoenvenenado é um dos melhores – quiçá, o melhor – disco oriundo da desova de primeira hora da grife independente apregoada pela MTV em tempos recentes. E a Zefirina Bomba é, desde já, uma das melhores bandas brasileiras em atividades.

E tenho dito.


Ouça Zefirina Bomba no MySpace da banda

E baixe todas as faixas do disco no TRAMA Virtual.



[[[ Mais de mil babacas no salão...]]]

Começa a contagem regressiva para o ano novo no Brasil. Depois do carnaval, todos os expedientes devem voltar ao normal, independente da ressaca dos funcionários.


Eu prometo que vou cair na cerveja. E não perco por nada a cobertura carnavalesca da Rede TV! com Léo Aquilla (foto abaixo, só pra chocar) conferindo in loco a Gala Gay e Monique Evans tocando o terror nos camarotes das celebridades globais - todos bêbados, diga-se. Mais assustador do que qualquer filme de terror lançado nos últimos vinte anos.

[[Não vô]]

Não me levem a mal, mas é que não me sai da cabeça uma cena que foi ao ar na cobertura do ano passado. Em plena avenida, Léo Aquilla aborda dois japas podre de bêbados e intima os caras a sambar. Diante da esperada inépcia dos dois, a criatura pergunta, à queima-roupa: "Are you gay?". Diante das negativas apressadas dos japas, Aquilla solta: "Então, pega a morena!" e empurra os caras pra cima de uma mulata estilo Globeleza que servia de "assistente de reportagem" durante a cobertura. Aproveitando o assombro de um dos nipônicos, impressionados com tanta carne a mostra, o "repórter" Léo Aquilla pula no colo do cara, que é obrigado a segurar aquela massa de côro, osso, plumas e paetês.

Se alguém achar esse vídeo no YouTube e passar o link, ganha um ingresso pro show de reunião do RPM.

[[[E segue o massacre...]]]

Ás vésperas de fechar o post, vejo no G1 o defunto da semana. Na madrugada dessa sexta-feira (1º) morreu Beto Carreiro, o John Wayne brasileiro - ou algo do tipo.

O placar até o momento: Véia da Capa Preta 2 x 0 Canalhismo Fantástico.

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa do leo aquila valeu mais do que toda uma ida a pirangi. de vera.

ó, agora o supercordas pode dividir o posto de grande banda nacional com o zeferina. bom saber que ninguém lembra mais do mqn, que só se comenta porque é sempre a menos ruim dos festivais.