6.6.08

Bolachas Fundamentais # 2: Foo Fighters (1995)

Ás vezes chega um momento na vida de todo sujeito que tem um mínimo de dependência pelo ato de ouvir e consumir música, em que ele olha para aquele monte de discos amontoados na prateleira e se põe a cascaviar jóias antigas que há muito não passam pelo play do toca-cd ou pela agulha da vitrola. Normalmente, essa busca pelos discos esquecidos pelo tempo e pela memória afetiva vem quando o fim do mês aperta e o referido cidadão não tem grana para continuar alimentando o monstro cefalópode que se tornou sua coleção de discos (meu caso nesses dias). Mas nem com todo o caráter emergencial da situação deixa-se de redescobrir coisas que você sequer lembrava de ter conhecido um dia.

Pois cascaviava eu com muita displicência pelos meus discos, quando dou de cara com o primeiro álbum dos Foo Fighters. Lançado no longínquo ano de 1995, a bolachinha com a pistola na capa entrou para a minha coleção ali por volta de 2000, quando o velho sebo de Ari, na Avenida Floriano Peixoto, era parada obrigatória pelo menos uma vez por semana após a escola. Não me lembro ao certo, mas tenho certeza que não paguei mais de dez pilas pelo CD, que ainda tá zero-bala. Bons tempos.

Eis que os primeiros acordes de “This Is a Call”, me jogam fora do transe nostálgico. De dentro dos falantes, Dave Grohl, pouco tempo depois da morte de Kurt Cobain, pilota guitarra, baixo e bateria com propriedade e não demonstra qualquer traço de insegurança nos vocais. Não fosse a ascensão, apogeu e queda de sua ex-banda uma notícia tão recente na época, nada indica que este é um disco feito por um sujeito que pouco tempo atrás era “só” um baterista e nunca tivera sua voz gravada em primeiro plano.

Ouvindo faixas de tratamento tão despretensioso e com jeitão de fita demo como “Floaty”, “Wattershed”, “Weenie Beenie” ou os hits alternativos “I’ll Stick Around” e “Big Me”, fica difícil imaginar que a banda viraria o que é hoje. Acredite se quiser: antes de se transformar nessa máquina de riffs angulosos e refrões de choro pronto, perfeita para embalar a tarde do adolescente que levou bomba em matemática e perdeu a namorada, Dave Grohl era só um cara que queria tocar rock com os amigos. Para a turnê do disco, o jeito foi juntar companhias meio suspeitas como Pat Smear (guitarra, ex-Germs que também fez parte do Nirvana já na fase terminal); William Goldsmith (bateria, ex-Sunny Day Real State) e Nate Mendel (baixo, também recrutado das fileiras do Sunny Day Real State e único que permanece na banda até hoje). Grohl, numa palhetada só, deu vazão a seus anseios pós-adolescentes e de quebra ainda botou na praça um dos discos mais legais de uma das melhores bandas dos anos 90.

Mais pra frente, viria o pesado The Colour and the Shape e o equilíbrio perfeito entre barulho e melodia em There’s Nothing Left to Lose (considerado por muitos como a obra-prima da banda), fechando a trinca que compõe a melhor fatia da discografia dos Foos. Depois, a banda foi gradativamente perdendo força e relevância até fincar a pedra base da lápide de qualquer banda de rock que se preze: um disco acústico. E um dueto com Norah Jones. Mas aí já são outros quinhentos.

Baixe Foo Fighters aqui.

Finalmente, uma banda que não dava a mínima para o visual.

Um comentário:

Hugo Morais disse...

Nunca fui fã do Foo Fighters. Gosto muito do Nirvana. Mas tenho que baixar a cabeça para Dave Grohl que sabe fazer coisas boas. A banda é muito boa, faz clipes excelentes e o cara saiu duma tosqueira para uma banda de produção impecável e continua na crista da onda. É lição pra muita gente, inclusive da terra de Cascudo.