27.4.08

Questões músico-etnológicas

[[Nossa história até o momento
OU
Por isso eu acredito
nos riffs! ]]


Uma divagação pouco abalizada, mas otimista dos rumos recentes da música independente brasileira,

por Alexis Peixoto.



Em fins da década de 90, quando não ter uma gravadora e tocar em botecos (ainda) não era uma opção por boa parte das bandas de rock que surgiam no país, um disco com oito faixas toscas porcamente gravadas e executadas chamou a atenção de críticos e fãs mais antenados. Corria o bizarro ano de 2000 e os gaúchos da Walverdes soltavam seu álbum de estréia, o esporrento 90º, lançado pelo então iniciante selo Monstro Discos.

A perplexidade diante da bolachinha não tinha nada a ver com invencionices sonoras ou tentativas de reinventar a roda, que parecem ditar a moda dos tempos atuais. Em termos de criatividade, o som da banda não ia muito além de algumas influências óbvias para o ouvinte esclarecido que prestava atenção no que dizia o Reverendo Massari e, portanto, sabia muito bem quem Kurt Cobain e Mark Arm eram.

Se não surpreendia pela proposta, o (na época) quarteto gaúcho se concentra em outro elemento bem mais importante: personalidade. Cantando em alto e bom português, os Walverdes assinalavam sem querer o marco zero do que hoje convém chamar de “nova leva do cenário independente”. Ou algo do tipo. De toda forma, foi naquelas oito faixas que pela primeira vez uma banda conseguiu provar que, em plena rota de colisão com a linha do Equador, não havia motivo para se pautar única e exclusivamente pelas filiais européias, como ditava a cartilha das bandas independentes dos anos 90.

De forma sutil, uma nova estética que já se insinuava em algum lugar começou a dar as caras a partir dali. De repente, começou a ficar óbvio para um monte de gente o quanto Stooges casava bem com Titãs e que Neil Young e Roberto Carlos tinham tudo a ver. Isto é: ninguém precisava mais emular a fábrica de miados de gatos dos irmãos Reid, nem cantar com um ovo na boca feito Ian Curtis para fazer rock de forma decente no Brasil. A partir daí, geniais esquisitices como Motormama, Autoramas e Júpiter Maçã tornaram-se mais necessárias do que nunca.

Houve quem embarcasse na onda seguindo a risca os modelos gringos, claro. Mas descontando raras exceções, poucos se criaram e quase nenhum deixou filhotes para espalhar a doença adiante. Charlton Heston finalmente havia devolvido o controle do Planeta dos Macacos aos humanos primitivos. E pior: via internet, que logo se tornou o canal perfeito para uma revolução não planejada.

E como é de praxe na música pop, todo – vamos lá – levante de novas propostas sonoras, acaba puxando uma série de outras questões, de ordem mercadológicas e comportamentais principalmente. Oito anos depois, a Monstro Discos virou uma espécie de major do underground e o rótulo “independente” já goza do status de “vanguarda da música brasileira”, mesmo passando atualmente por um tratamento de desintoxicação após um período de intensa exploração por parte da MTV.

Fragilizado, mas longe de estar moribundo, o cenário independente sobrevive na certeza de que algo de novo surgirá no front, o que não deve demorar. Em 2006, um outro quarteto de gaúchos fechou o ciclo iniciado pelos Walverdes no início da década. A bicudos de All Star azul, os Superguidis abriram a porteira para a terceira geração de bandas independentes brasileiras, com seu disco homônimo e de capa amarela.

Como dizia o finado Chico Ciência, o futuro é daqui a pouco. Opa, peraí: chegou.

p.s.: O selo paulista Open Field relançou 90º dia desses, em edição especial comemorativa aos 15 anos da banda. Clica aqui e encomenda o teu.

Um comentário:

Anônimo disse...

hummm, sei sei. Só quero deixar claro que acho o Supercordas dupper. E merece estar aí nesse início de terceira geração. O mais, tudo muito abalizado.