8.12.08

Happiness in magazines

Em plena segunda-feira, adentrei em um daqueles sebos da Ulisses Caldas e me pus a fuçar uma pilha de revistas velhas. Fuçar qualquer coisa em sebos é, na sincera minha opinião, um hábito tão necessário ao desenvolvimento humano quanto comer feijão no almoço. O problema é que a prática repetida desse ato tão simples pode acabar se revertendo em sérios prejuízos ao seu bolso (falo por experiência própria).

Dessa vez não foi o caso. Na pilha jogada num canto de parede do sebo, entre revistas de surf e fascículos de cursos práticos de inglês, encontrei quatro exemplares da finada, saudosa e, ao menos pra mim, fundamental revista Bizz. Para os incautos que não admitem qualquer justificativa para uma frase tão cafona quanto a anterior, eis uma informação confidencial que eu reservava para um futuro volume de memórias: meu presente de aniversário de 11 anos foi uma assinatura da Bizz. O primeiro número que recebi, lembro até hoje, tinha na capa meio esverdeada os irmãos Gallagher, então na moda mas já entrando no pós-hype do Oasis. Daí pra frente, a revista passou a ser a minha principal fonte de informação musical, e influência decisiva na minha maneira de encarar e escrever sobre música alguns anos mais pra frente.

Acompanhei a revista de 1997 até a primeira morte, em 2001, passando por mudanças de nome (de Bizz pra Showbizz e depois, pra Bizz outra vez) e formatos. Quando ressuscitaram a coitada, em 2005, segui em coleção conjunta com o também órfão Tiago Lopes, até a segunda e, ao que parece, definitiva morte no início de 2007.

Os exemplares adquiridos pela soma total de 4 pilas ainda que de capas não tão convidativas (Bruce Dickinson, Dexter Holland, do Offspring, Dinho Ouro Preto e, fechando o quarteto, Roger do Ultraje a Rigor nu em pêlo e recém-saído da capa da G Magazine), escondiam um conteúdo da porra. Textos que, na medida em que fui folheando as páginas, já sentado dentro do ônibus, fui reconhecendo dos tempos em que era leitor assíduo da revista.

Foi como um daqueles filmes B em que um sujeito viaja no tempo e, ao dar de cara com um de seus antepassados, percebe no coroa as características seminais que o definem no presente. Nas páginas das revistas saídas do sebo estão lá todas as figuras que hoje habitam de forma quase obsessiva a minha estante de discos e o meu aparelho de som. Pavement, Yo La Tengo, Neil Young, Stooges, Nação Zumbi, Mogwai, Mutantes,Violent Femmes. Todos assinaram a lista de presença.

Ao invés de aparecerem em notinhas sociais disfarçadas de matérias, os senhores do parágrafo acima eram personagens de textos escritos por quem entendia de música e escrevia com a preocupação de despertar alguma opinião no leitor. E com grandes piadas no meio, claro.

Vejamos: alguém pode botar preço num texto em que Luis Antônio Giron elogia Paulo Miklos chamando o titã de “bulbassauro do rock”? E uma cobertura do Abril pro Rock de 99, em que tocaram Nação Zumbi, Mestre Ambrósio e nomes esquecidos ou obliterados como Via Sat e Sheik Tosado? Ou numa entrevista de duas páginas, mais uma discografia comentada de Frank Black? Ou que tal uma matéria com clima de teoria da conspiração, que define o então pouco conhecido Belle & Sebastian como “uma misteriosa banda escocesa cujos integrantes se recusam a tirar fotografias ou dar entrevistas”? Chamem o Mastercard, porque essa porra simplesmente não tem preço.

Dos quatro exemplares adquiridos, aquele que mais me empolgou foi o número 188, de março de 2001, estampado com o abominável frontman do Capital Inicial. Apesar de representar a fase terminal que levou ao primeiro cancelamento da Bizz, é a minha encarnação favorita da revista. Na época, a linha editorial assumiu um ar mais “alternativo” que, aliado ao Lado B da MTV e a um troço chamado Napster contribuíram para que eu tivesse pouco assunto com os colegas da escola, ainda que as seqüelas no meu gosto musical tenham sido perenes.

Porra, onde vou encontrar por aqui uma revista que se dê ao luxo de estampar na quarta capa um anúncio de página inteira sobre o disco solo de Stephen Malkmus com os dizeres “Em frente, estrada sem asfalto”? Não vou, simplesmente. Os tempos são outros.

De toda forma, batidas em sebos me parecem mais saudáveis do que gastar dinheiro em revistas de fofoca camufladas. Aos sebos e avante.

3 comentários:

Hugo Morais disse...

Ah se eu não fosse tão alérgico.........

Anônimo disse...

a bizz era massa mesmo. é tanto que, até hoje, acompanho em blogs e outros lugares os caras que eu mais gostava de ler por lá. até essa última fase era digna de 4 estrelas de 5. como sempre, as capas deixando a desejar. mas, se era necessário passar por uma pitty vomitando pra ler sobre o sufjan, acho o preço até baixo.

Demitido disse...

Eu tinha uma coleção;

Acho que ia de 94 até 00. Passei no vestibular e como prêmio eu tive o "prazer" de saber que minha mãe havia queimado tudo.