Há pouco mais de um ano, quando os cariocas do Los Hermanos anunciaram que iriam entrar em hiato “por tempo indeterminado”, o mundo de milhões de seres dos cursos da área humana das universidades federais de todo o país veio abaixo. Instantaneamente convertidos em viúvas, os fãs da banda penduravam as sandálias de couro e coçavam as barbas pensativos, intrigados com uma questão que martelava suas (oh!) drummonianas mentes: E agora, José?
De fato, a luz apagou, a festa acabou, etc. Depois do divórcio, cada um dos quatro hermanos seguiu caminhos tão diferentes quanto assustadores. Entre bandas de hardcore, colunas no G1, tati-bitátis com ex-hypes novaiorquinos e novos e mais sebosos hippies, Marcelo Camelo findou saindo na frente. Logo ele, o discípulo mais fiel de Caê, de Chico e de Caymmi, o amigo da filha da Elis. Ele, o mais potencialmente chato, a quem coube toda a culpa de, com suas morenas e metáforas marítimas, ter estragado 4, disco que poderia ter passado para a crônica musical brasileira como canto de cisne definitivo de sua ex-banda. Ele, que uma vez tentou alfinetar o mainstream, mas levou porrada de Chorão e acabou no acústico de Sandy & Júnior.
Pois bem. É hora de aceitar os fatos. Sou, aguardado disco de estréia de Camelo, traz um dos melhores conjuntos de canções ouvidos esse ano.
Longe das limitações impostas por uma banda convencional de rock, o cantor se esbalda na lingerie, seguramente secundado pelos paulistas de vanguarda do Hurtmold. Na prática, isso se reflete em arranjos mais delicados e elegantes, ás vezes um tanto imprevisíveis, calcados não em um naipe de metais capenga ou em tecladeiras de churrascaria, mas sim em texturas melódicas criadas pelo esforço contínuo de uma banda preocupada somente em fazer a cama pra o que o cantor tem a dizer – e sem soar apagada ou deixar de emprestar um boa dose de identidade, frise-se.
Nessa quesito, aliás, Camelo não vai muito longe da matriz. Se ele aparece mais simpático na carnavalesca “Copacabana” (dos versos “O bairro do Peixoto é um barato/ E os velhinhos são bons de papo”), não tarda pra o cidadão tascar um “Solidão, foge que eu te encontro” algumas faixas adiante. O que, no fim das contas nem é necessariamente ruim. Eis aí Marcelo Camelo do jeito que sempre quis ser, mas nunca conseguiu enquanto frontman de uma banda que crescia em popularidade com proporções religiosas. E ora, rock mesmo ele nunca soube fazer – “Cara Estranho”, “Tão Sozinho” e o primeiro disco dos Hermanos estão aí pra não me deixar mentir. Sou (ou Nós, dependendo de como se lê na capa) no fundo é uma afirmação de identidade que, por acaso, vem a ser um grande disco.
P.S.: O lançamento oficial de Sou é no dia 08 de setembro (segunda-feira que vem, aliás), mas dez das catorze faixas já estão a solta na internet desde a semana passada, em trocentos links. Por exemplo, aqui.
P.P.S.:. Chupa essa, Daniel!
2 comentários:
É o Rock man.
Rapaz, gosto do primeiro disco dos finados. E tenho o segundo e o terceiro.
Irei escutar esse. Um cheiro.
ô nego egocêntrico! o cara tinha que colocar o trecho que o camelo o homenageia no texto, hehe. tô com o hugo, o primeiro disco dos hermanos é bom sim. e essa foto do camelo ao lado da sua, no perfil, formam o caleidoscópio das barbas. uau!
valeu pela manga!
Postar um comentário