1.9.08

Fleet Foxes: O folk errou

E, para surpresa geral da nação, o folk virou tendência de mercado. O estilo, com suas cantoras mirins e poetas ambíguos, costuma aparecer nos tempos modernos atrelado a insuspeitos prefixos. Dependendo do gosto do freguês pode ser neo, indie, freak ou o que mais os críticos tiverem coragem de inventar. Tudo bobagem, diga-se. O álbum de estréia dos americanos do Fleet Foxes, apresenta o folk como nunca deveria ter deixado de ser considerado. A saber, boa música pura e simplesmente.


Oriundos de Seattle, o quinteto barbado abre mão das lições melódicas do rock alternativo (cartilha de nomes como Bright Eyes e Elliott Smith) e honra os velhos ídolos do passado, porém sem a reverência obsessiva dos patrícios Vanguart e Mallu Magalhães, pra ficar em nomes mais conhecidos. Embora nenhum acorde das onze faixas do álbum soe remotamente inédito, há uma personalidade própria impressa em cada composição que não permite colocar essa banda na gôndola dos meros recicladores de caveiras musicais. Sim, aí está o fantasma do Buffalo Springfield, as barbas de Harry Nilsson e as vocalizações beach-boyanas, no limiar do cafona. Muito embora as identificações sonoras sejam evidentes, o ouvinte atento logo conclui que nada do que foi registrado no disco, auto-intitulado, poderia ter sido escrito por nenhum dos artistas previamente citados.

A sacada de mestre (vulgo talento) que diferencia o Fleet Foxes de seus companheiros revisicionistas é tão perigosa que chega a por em risco o futuro da banda, uma vez esquecido o burburinho inicial da estréia. Cara a cara com o fôlego criativo que o grupo apresenta logo de saída o ouvinte pessimista dificilmente põe fé na criatividade do grupo em longo prazo e já se arrisca a prever, com direito a sonoplastia de nuvens e trovoadas, a ladeira abaixo que deve se seguir nos próximos álbuns.

Ainda que no fim das contas o amigo urubuzento tenha razão e o Fleet Foxes nunca supere a sua obra (prima) de estréia, só por terem escrito uma canção como “White Winter Hymnal” já mereciam um lugar de destaque em qualquer hipotética lista de melhores do ano e/ou da década. Em pouco menos de dois minutos e meio o grupo é capaz de apresentar uma aula de harmonia entre arranjo e letra, com uma concisão poética que, sem risco de exageros, chega a lembrar os melhores versos do poeta americano Robert Frost.

Ironicamente saídos da terra do grunge e lançado pela Sub Pop, gravadora símbolo do estilo, o álbum é a antítese direta à sujeira que outrora chacoalhava os cabelos ensebados daquela cidade. Tampouco compactua com a necessidade de ser retrô que norteia boa parte das bandas adotadas pelo povão indie e pela crítica. Se a banda remete a bons sons do passado, o faz sem esforço e com naturalidade, deixando claro que não poderia existir de outra forma.

Candidato a cult, um anticlássico, um estranho no ninho. Pior: Fleet Foxes, o disco, é, indiscutivelmente, um saudável erro de percurso nos rumos do folk atual.

[[Bônus track:]] Vídeo - White Winter Hymnal


3 comentários:

Hugo Morais disse...

Iraaaaaaaaaaaado, boy.

Du Caralhu.

É o rock, ou, o Folk.

Rapaz, tem certas coisas que quando escuto dá vontade de tocar. Black Keys, Thee Butchers...Essa foi uma. Realmente os vocais lembraram Beach Boys. Muito bom. Baixo onde?

Anônimo disse...

Aleluia broda! Isso aqui, finalmente atualizado.

E a banda é muito massa mesmo, um "da década" realmente.

Rudá A. disse...

Baixei o disco depois de ter visto um vídeo dos próprios tocando com o Wilco e, aumentando o coro, achei massa.

é o folk!