Tradução livre de "Missing My Son", de Tom Waits
(in Orphans: Brawlers, Bawlers & Bastards, 2006, ANTI)
Eu tava outro dia na fila do supermercado, nada demais, só esperando para colocar minhas coisas na esteira do caixa e dar o fora dali. E bem na minha frente tinha uma dona que, de repente, sem motivo nenhum, começa a me encarar. Bem, eu vou ficando um bocado nervoso com aquilo e começo a disfarçar e tentar fingir que não estou notando, mas não adianta e ela continua a me encarar fixamente. Até que finalmente ela se aproxima e diz: “Por favor, me desculpe ficar te encarando assim, eu sei que é chato e tal”, esse tipo de coisa. “Mas é que você é a cara do meu filho... que morreu. E eu não consigo parar de olhar pra você”. Daí ela começa a mexer dentro da bolsa e tira de lá uma fotografia do falecido pra me mostrar. O sujeito não se parece nada comigo. O cara é chinês, na verdade.
Bem, ficamos de papo por um tempo e daí ela diz: “Desculpa, mas você se importa de, quando eu for saindo do supermercado, dizer ‘Tchau, mamãe’ pra mim? Eu sei que é esquisito e tal, mas é que faz tanto tempo que não ouço meu filho dizer ‘tchau’ pra mim ou ‘até logo’... e me faria tão bem ouvir isso agora. E, olha, se você não se importar...”. E eu digo, meio sem graça: “É, ok, tudo bem, eu acho. Posso fazer isso”. Ela recolhe as compras no caixa e eu fico olhando enquanto ela atravessa a loja em direção a saída. Antes de passar pela porta ela se vira pra mim, acena e diz: “Tchau, filho!”. E eu olho pra ela, ergo o queixo, aceno de volta e digo: “Tchau, mamãe!”.
E aí ela sai, finalmente, e chega minha vez e eu começo a passar minhas compras na esteira e o sujeito do caixa vai conferindo as coisas. Quando termina ele vira pra mim e diz: “Deu quatrocentos e setenta e nove dólares”. E eu digo: “O quê, mas será possível?! Eu só tô levando uma latinha de atum, um caixa de leite, um pouco de pão e mostarda...” E ele diz: “É, mas você está pagando pelas compras da sua mãe também, não tá? Ela disse que acertasse com você”. E eu digo: “Ei, peraí, ela não é minha mãe!”. E ele responde: “Mas eu ouvi muito bem quando ela virou pra você e disse ‘Tchau, filho!’ e você respondeu ‘Tchau, mãe!’ pra ela. Que é que tá acontecendo aqui, afinal?”. E eu digo: “PORRA!” e quando olho pro estacionamento a dona está entrando no carro, pronta pra sair. Eu corro até lá e ela já tá quase fechando a porta, começando a tirar o carro, e eu agarro na perna dela e começo a PUXAR!... Que nem eu tô puxando a tua *.
* Em inglês, “puxar a perna de alguém” quer dizer “tirar onda”, “sacanear”. É um gíria meio idosa, bem mais usada pela velha guarda do que pelos jovens. Tentei, mas não consegui achar nenhum equivalente em português que soasse adequado e ainda por cima preservasse a piada do final. Acabou ficando literal e capenga, admito.
Ouça a versão original de "Missing My Son":
2 comentários:
nunca imaginei q Tom Waits fizesse compras no supermercado... kkkkkkk
hahahaha
Muito bom. Tem uma piada que é assim:
O cara vai num cassino e perde quase tudo. Fica com apenas R$ 10.00. Vai até o ponto de táxi e faz a sugestão ao primeiro taxista: cara, tô com R$ 10.00 para ir para o outro lado da cidade, quando chegar lá te pago. O taxista se nega. O cara segue até o fim da fila implorando, dez táxis. No último ainda leva uma porrada: nem por cinquenta eu te levava, filho da puta! Puto, sem que algum tenha aceitado, ele resolve apostar os R$ 10.00. Volta ao cassino e sai de lá com R$ 500.000. Resolve sacanear o último taxista que foi ignorante com ele. Sai de um em um táxi oferecendo: te dou R$ 100.00 para tu me deixar em casa e me pagar um boquete. Todos negam, quando chega no último ele diz: ganhei um prêmio, tô com a grana. Vai a viagem? Dou R$ 100.00 e gorjeta. O taxista topa na hora e sai feliz da vida, rindo e acenando para os outros.
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